Possível candidatura de Moro ao Senado ameaça projeto político de Álvaro Dias; Ratinho e Requião encabeçam intenções de voto para governador

Provável chegada de Moro à disputa ao Senado deve alterar cenário atual; Levantamento da IRG Pesquisa aponta diferença de mais de 30 pontos entre Ratinho e Requião
Por Álefe Nícolas dos Santos de Carvalho, Ana Paula Virgulino, Evelyn Garcia Fagundes, Helen Cristina da Silva.
Álvaro Dias desponta como favorito na disputa ao Senado com 45% das intenções de voto, de acordo com pesquisa eleitoral da IRG Pesquisa, divulgada no dia 19 de maio. Porém, uma possível candidatura de Sergio Moro, que
anunciou que concorrerá a cargo eletivo pelo Paraná, deve mudar esse cenário. A mesma pesquisa mostra que o atual governador do Paraná deve se reeleger em primeiro turno – Ratinho Júnior pontuou 52,8% das intenções de votos entre o eleitorado paranaense. Roberto Requião, pré-candidato petista e ex-governador do Paraná pelo MDB, teve 20,2% das intenções de voto na pesquisa. Em terceiro lugar, Flávio Arns (Podemos) pontuou 7,2%. 15,5% dos eleitores escolheram a opção “Nenhum”, ou ainda não sabem em quem votarão. Confira abaixo os números da pesquisa.
Cenário 1 – Governo do Estado:
Ratinho Junior (PSD) – 52,8%
Roberto Requião (PT) – 20,2%
Flavio Arns (Podemos) – 7,2%
César Silvestre Filho (PSDB) – 2,7%
Professora Ângela Machado (Psol) – 1,7%
Nenhum – 11,3%
Não sabe/não respondeu – 4,2%
Cenário 2 (sem Arns) – Governo do Estado
Ratinho Junior (PSD) – 55,3%
Roberto Requião (PT) – 21%
César Silvestre Filho (PSDB) – 3,2%
Professora Ângela Machado (Psol) – 2,3%
Nenhum – 13,6%
Não sabe/não respondeu – 4,6%
Cenário 1 – Senado
Álvaro Dias (Podemos) – 45%
Doutor Rosinha (PT) – 9,5%
Paulo Martins (PL) – 7,1%
Guto Silva (PP) – 4,5%
Orlando Pessuti (MDB) – 4,3%
Aline Sleutjes (Pros) – 2,7%
Elton Braz (PCdoB) – 0,7%
Desiree Salgado (PDT) – 0,7%
Nenhum – 17,9%
Não sabe/não respondeu – 7,6%
Na corrida ao Senado, Álvaro Dias é o favorito para conquistar a única vaga disponível para o cargo de senador no Paraná. Seu favoritismo pode ainda aumentar, caso um acordo entre PSD e Podemos seja firmado e Ratinho Júnior
apoie sua pré-candidatura. Porém, esse cenário ainda deve sofrer alterações, principalmente com uma possível candidatura do ex-juiz Sérgio Moro. Moro anunciou no dia 14 de junho, em evento em Curitiba com apoiadores, que se candidatará a algum cargo pelo Paraná, após ser impedido pela Justiça Eleitoral de disputar as eleições por São Paulo. Moro não especificou qual cargo disputará – insinuando que poderia até concorrer ao Governo do Estado. Porém, esse cenário é improvável, já que o Presidente nacional da legenda, Luciano Bivar, delimitou as escolhas de Moro em entrevista à CNN, “Ele poderá escolher disputar tanto à Câmara dos Deputados como ao Senado Federal no Paraná”, disse Bivar, que afirmou na ocasião que vai apoiar qualquer escolha que Moro tomar. Uma candidatura de Moro ao Senado seria ideal para a legenda, que pretendia disputar a vaga com Fernando Francischini, que teve sua candidatura inviabilizada quando perdeu seus direitos políticos após ser condenado por propagação de desinformação. Com a volta de Moro ao jogo político do Paraná, o União Brasil deve retomar seus planos de expandir sua bancada no Senado.
Caso opte por disputar a vaga ao Senado Federal, Moro enfrentará ÁlvaroDias, seu padrinho político, que foi quem o aproximou do Podemos e orquestrou a pré-candidatura do ex-juiz à presidência. Álvaro chegou até a afirmar que, caso Moro decidisse não disputar a presidência, poderia ceder sua candidatura ao Senado. Mesmo com essa generosa oferta, Moro decidiu trocar de partido. No caso de optar pela disputa à Câmara dos Deputados, Moro enfrentará um velho aliado, o ex-procurador Deltan Dallagnol, do Podemos, que também disputará a corrida.
Não é possível saber ainda o tamanho do impacto que uma candidatura de Moro teria nas disputas estaduais. Porém, é fato que o ex-juiz é um nome muito conhecido, que reúne muitos apoiadores no Paraná, e deve dificultar os projetos eleitorais de seus adversários.
Sergio Moro foi introduzido na política por Álvaro Dias, no Podemos, como pré-candidato presidencial. Porém, o ex-ministro enfrentava divergências dentro da legenda, um dos principais motivos sendo deputados federais resistindo a
ceder quantias do fundo eleitoral para a campanha de Moro. Pouco depois, Morofoi convidado por Luciano Bivar, presidente do União Brasil, a se filiar ao União Brasil de São Paulo. Logo após se filiar ao partido, as aspirações de Moro à disputa presidencial foram rechaçadas por alas da legenda, que acreditavam que a candidatura não tinha potencial de crescimento, e que investir nela seria um desperdício do fundo eleitoral. Moro teve de recuar da campanha presidencial. O União Brasil sinalizou que queria o ex-juiz disputando uma vaga à Câmara por São Paulo, devido ao seu potencial para agir como “puxador de votos” e ampliar a bancada do partido. Porém, em junho, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo rejeitou a transferência do domicílio eleitoral de Sergio Moro do Paraná para São Paulo. A decisão foi tomada pelo juiz eleitoral Marcio Kayatt. Assim, O registro eleitoral de Moro permaneceu no Paraná. Apesar de discordar da decisão do TRE, Moro voltou ao Paraná em busca de um novo projeto político pelo União Brasil. Desde então, a expectativa é de que o ex-juiz decida se disputará a eleição pelo Paraná. A preferência de Sergio Moro é por uma candidatura ao Senado, mas ele ainda não decidiu que vaga disputará.
Governo do Estado
Já na corrida ao Palácio do Iguaçu, os dados revelam que Ratinho deve ganhar a disputa, com folga – porém, o PSD enfrentará o desafio de tentar unir em sua coligação o Podemos e o PL. Os três partidos já declararam ter interesse
na vaga do Paraná ao Senado Federal, e Álvaro Dias, uma das figuras mais influentes do Podemos paranaense, já afirmou neste ano que o seu partido só apoiará a candidatura de Ratinho caso o PSD apoie o candidato do Podemos ao
cargo de senador, que deve ser o próprio Álvaro Dias. O PL ventila lançar também a própria candidatura ao Palácio do Iguaçu caso acordos não sejam firmados.
Num cenário sem Arns, que pode decorrer de uma possível aliança do Podemos com o PSD, Ratinho é o maior beneficiado – o governador herda 2,5 pontos percentuais. Em seguida, o grupo que mais cresce é “Nenhum”, que
aumenta 2,3 pontos no segundo cenário. Requião aumentaria 0,8 pontos, Professora Ângela Machado aumentaria 0,6 pontos, César Silvestri Filho aumentaria 0,5 pontos, e “Não sabe/não respondeu” aumentaria 0,4 pontos neste cenário alternativo.
Enquanto isso, o pré-candidato do PT, Roberto Requião, se consolida em segundo lugar nas intenções de votos. Pela primeira vez na história do PT, o nome escolhido pelo partido para disputar o Palácio do Iguaçu está entre os dois
grandes favoritos. Anteriormente, o mais próximo que o partido chegou de ocupar uma posição de destaque nas eleições foi com Gleisi Hoffman, em 2014. A petista recebeu quase 15% dos votos no primeiro turno, ficando em terceiro lugar atrás de Requião, que disputou a eleição pelo então PMDB, e Beto Richa, que se reelegeu govenador pelo PSDB na ocasião com quase 56% dos votos do primeiro turno.
Cesar Silvestri Filho deve ser a aposta do PSDB, e conta na pesquisa com 2,7% das intenções de voto. Porém, sua pré-candidatura sofreu abalos e críticas dentro do partido no mês de maio, quando foram registrados disparos em massa
no WhatsApp que enviaram conteúdo eleitoral que apoiava a pré-candidatura de Silvestri Filho para eleitores paranaenses. O vídeo em questão apresentava o tucano como a “terceira via” em oposição às pré-candidaturas de Ratinho e Requião. O Ministério Público do Paraná afirmou que investigaria o caso. Para o Tribunal Superior Eleitoral, a prática de disparos em massa sem consentimento prévio do destinatário pode ser considerada abuso de poder econômico e propaganda irregular, e pode acarretar a impugnação ou inelegibilidade de candidatos que a cometam.
Apenas uma mulher pontua na pesquisa – a Professora Ângela Machado deve disputar a corrida pelo PSOL. Ela conta com 2,3% das intenções de votos.
Os candidatos ao Palácio do Iguaçu
Carlos Roberto Massa Júnior é um empresário, comunicador e político brasileiro e filho do empresário proprietário da Rede Massa, Carlos Roberto Massa (conhecido como Ratinho). É formado em Marketing pela FACINTER e pós-graduado em direito pela UNB. É filiado ao Partido Social Democrático (PSD). Foi eleito deputado estadual em 2002, deputado federal em 2006, ocupou o cargo de secretário de estado em 2013 e foi eleito governador do Paraná em
2018. Foi o deputado estadual e federal mais votado da história do Paraná. É alinhado ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e tem como prioridades a redução da atuação do Estado, o incentivo ao desenvolvimento industrial e a
transparência na gestão.
Roberto Requião de Mello e Silva é formado em Direito pela UFPR e em Jornalismo pela PUCPR, cursou Urbanismo pela FGV. Foi Deputado Estadual (1983-85), Prefeito de Curitiba (1986-89), Secretário do Desenvolvimento
Urbano do Estado do Paraná (1989-90), Governador do Estado do Paraná (1991-95), Senador da República (1995-2002), Governador do Paraná (2003-2007), e foi reeleito Governador (2008-2011). Construiu carreira política no MDB, mas em 2016 já se distanciou de setores da sigla quando defendeu a permanência da presidente Dilma Roussef no cargo. Se filiou ao PT recentemente, citando o desejo de participar de uma frente ampla de reconstrução do país. É contra a privatização de empresas estatais de setores estratégicos e tem criticado a distribuição de títulos de propriedade emdetrimento de programas de reforma agrária.
Flávio Arns é um professor político formado em Letras pela PUCPR em 1972 e em Direito pela UFPR em 1973, onde também lecionou. Foi diretor do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Educação do Paraná (1983-1990), presidente nacional da APAE (1991-1995 e 1999-2001), vice-presidente da Liga Internacional de Entidades Pró-Pessoas com Deficiência Mental (1996 a 1998), presidente da Federação das APAE do Estado do Paraná (1997-1999), e foi empossado na Academia Paranaense de Letras em 2015, ocupando a cadeira de número 10. Se elegeu deputado federal pelo PSDB (1990-2002). Em 2001, deixou o PSDB e filiou-se ao PT e foi eleito senador (2003-2006). Nas eleições de 2006, concorreu ao governo do Paraná, obtendo o terceiro lugar com 9,3% dos votos. Em 2009, voltou ao PSDB, e se elegeu vice-governador em chapa encabeçada por Beto Richa no ano seguinte. Em 2018 foi eleito novamente ao cargo de Senador do Paraná pelo Rede Sustentabilidade. Em 2020, trocou de partido, se filiando ao Podemos. O pré-candidato afirma que defende a valorização da dignidade do cidadão, sendo muito conhecido por sua extensa atuação na defesa dos direitos das pessoas com deficiência mental.
Cesar Silvestri Filho é um empresário, agricultor e político, filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Em 2008 disputou a prefeitura de Guarapuava pelo PPS e foi derrotado, mas dois anos depois foi eleito deputado estadual. Em 2012, voltou a disputar a prefeitura de Guarapuava e conseguiu se eleger. Em 2016, foi reeleito. Foi pré-candidato ao governo do Paraná em 2018 pelo Cidadania (antigo PPS), mas seu nome não foi lançado na
disputa. Em 2022, se filiou ao PSDB para concorrer ao cargo. Defende pautas ligadas ao agro, ao empresariado e aos programas de geração de renda e qualificação profissional.
Ângela Machado é professora da rede pública estadual há mais de 20 anos e é filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Ficou conhecida em 2015, quando se ajoelhou em frente à uma tropa de choque que reprimia um
protesto contra a Reforma da Previdência em Curitiba. Se candidatou à Câmara de Vereadores de Curitiba em 2020, mas não foi eleita. Defende pautas ligadas aos direitos das minorias sociais, sendo conhecida por sua atuação no
movimento feminista.
Metodologia da pesquisa
O levantamento da IRG Pesquisa está registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o protocolo PR-08031/2022. Tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais e confiança de 95%. As entrevistas foram realizadas entre os dias
14 e 17 de maio, com 1.500 eleitores paranaenses, por telefone. As amostras foram categorizadas por sexo, faixa etária, grau de escolaridade e renda.