Curitiba é uma das cidades que mais dá assistência a refugiados

Curitiba é a 2a cidade que mais recebe refugiados no Brasil e é uma das poucas que dá assistência total para o estabelecimento deles
De José Henrique de Souza
Com o conflito Rússia-Ucrânia, 3,8 milhões de ucranianos deixaram seu país rumo a outras nações ao redor do mundo até 28 março de 2022, segundo dados do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Só no Paraná, duas cidades já se voluntariaram para receber os ucranianos. Curitiba recebeu os primeiros refugiados ucranianos no dia 18 de março. Isso é parte de uma tradição que vem de décadas de acolhimento a refugiados e imigrantes.
“Curitiba possui muitas pessoas de ascendência e nacionalidade diversas ao longo de sua história, foi uma cidade construída com a ajuda de imigrantes, como Poloneses e Ucranianos, afirma Kelly Letchakowski, técnica internacionalista do Centro de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas(CEIM).
Serviços
Segundo o relatório da OBmigra, Observatório das Migrações Internacionais, “Refúgio em Números-6a edição’’ de 2020, Curitiba é o único dos 23 principais municípios de residência de imigrantes que cumpria todos os 6 instrumentos de gestão migratória e sendo um dos únicos 3 municípios a ter atendimento multilíngue nos serviços públicos.
Esse sistema se tornou possível por conta dos serviços de gestão e auxílio migratório do CEIM, da Fundação de Ação Social (FAS) e do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS).
História
A própria comunidade ucraniana veio em seu início como refugiados. Levas de imigrantes ucranianos vindos depois 1907 eram de refugiados e a esmagadora maioria de descendentes desses imigrantes reside no Paraná (81%), segundo a Representação Cultural Ucraniano-Brasileira (RCUB)
“A comunidade dos ucranianos no Brasil é bem grande, são cerca de 600 mil descendentes”, explica o professor Luiz Rafael Matias Lepchak, membro da comunidade e integrante de grupo folclórico ucraniano.
O impacto da comunidade ucraniana na cidade é percebido no campo cultural, com monumentos como o Memorial Ucraniano.
“Os descendentes mantêm esse legado vivo através da religiosidade e dos grupos folclóricos ensinando dança e canto para crianças e com artesanatos, principalmente com bordados e as pêssankas, que são um símbolo da união entre os povos brasileiro e ucraniano”, como observa Lepchak
Essa comunidade significativa da população curitibana foi abalada ao receber a notícia da invasão russa.
“A comunidade ficou de modo geral assustada com a invasão russa. Primeiramente muito assustada, num segundo momento procurando informações e num terceiro momento tentando informar o público geral e combatendo fake news, e se preparando para dar qualquer ajuda e acolhimento de refugiados dos ucranianos ”
A reação da comunidade de descendentes ucranianos é a representação mais recente de um dos pilares da capacidade curitibana de acolher os migrantes, a relação de comunicação entre o Poder Público com grupos da sociedade civil que auxiliam seus semelhantes a se estabelecerem com ONGs como a Missão em Apoio a Igreja Sofredora (MAIS).
“Na medida do possível, nós temos uma rede de comunicação e cooperação com a sociedade civil”, diz Amelia Cabral Allessi, Coordenadora do CEIM.
A MAIS, que com a ajuda da Igreja Presbiteriana de Curitiba, em 2021, auxiliou refugiados cristãos afegãos perseguidos a chegar na capital paranaense e a conseguir ajuda, como faz outros grupos de refugiados cristãos perseguidos.
“A sociedade civil e as associações religiosas são salvadoras no que diz respeito ao acolhimento dos migrantes, com associações cristãs, como a Pastoral do Migrante e as ONGs”, avalia a coordenadora do CEIM.
A maior parte dos refugiados que vêm ao Paraná ainda são venezuelanos vindos da Operação Acolhida, criada em fevereiro de 2018 e coordenada pelo Ministério da Cidadania.
“O Paraná é o estado que mais recebe refugiados da Acolhida e Curitiba(atualmente) é o 2o município que mais recebe, depois de Manaus“ diz Letchakowski.
Muitos desses refugiados vêm em situação de vulnerabilidade e precisam de direcionamento e encaminhamento, área onde atua o CEIM.
“O CEIM presta assistência na parte burocrática, com regularização, documentação, empregabilidade, linguagem e encaminhamento” como foi explicado por Rubi Heim, Residente técnica de Direito no CEIM.
Veja história dos refugiados ucranianos no Brasil: