Paraná ocupa quinto lugar no ranking de LGBTfobia no Brasil

por Luís Gustavo Bocatios
Paraná ocupa quinto lugar no ranking de LGBTfobia no Brasil

Mais de 80% da população da capital sofreu preconceito por conta da orientação sexual

Por Felipe Martins, Ivan Cintra, João Américo Goulart e Luís Schuh Bocatios | Foto: Ivan Cintra

O Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTI+, com uma morte violenta registrada a cada 29 horas. A região sul representa 9% das mortes. Os dados, porém, escondem o grande número de casos de violência contra a comunidade no Paraná, que ocupa o quinto lugar no ranking de estados. Os dados são de um levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). Ano passado, assassinatos foram cometidos pelo serial killer de homossexuais em Curitiba, em que o laudo psicológico apresenta “forte teor homofóbico.” Não é só de mortes, porém, que se configura a LGBTFobia. O crime é tipificado e enquadrado na lei 7.716/89, de racismo. Vários casos de discriminação verbal com pessoas LGBTI+ ocorrem em Curitiba. 

O gestor de conteúdo Fernando Carlos, de 21 anos, começou a morar em Curitiba há 5 meses e já foi vítima de preconceito na cidade. Um homem, na rua XV de Novembro, abordou ele e seu namorado com injúrias.  

Ele só percebeu que se tratava de um caso de LGBTfobia quando outro casal homossexual entrou no mercado em que estavam, cujos ataques agora foram direcionados a eles, dizendo que eles não eram “machos”, em suas palavras. 

Fernando, porém, tentou conversar com os seguranças do estabelecimento, que não interferiram. Ligou para a polícia, que só chegou depois que o homem saiu.  

O criador de conteúdo gravou a altercação. Neste momento, o homem tirou uma faca do bolso: “se a gente [casal] tivesse sozinho na rua, ele com certeza teria matado a gente”, diz.

Depois da gravação, publicada nas redes sociais, recebeu mensagens de pessoas informando que sofreram de situação semelhante com a mesma pessoa. Ele já viu o homem outras vezes e ligou para a polícia, mas ela nunca apareceu.

Dados de 2018 mostram que o caso citado acima é comum na capital paranaense, visto que  84,4% já sofreram discriminação. Dessas, 44% foram discriminações indiretas, 33% discriminação psicológica, e mais de 120 pessoas sofreram agressão física. O local onde mais ocorre a discriminação, segundo a pesquisa, é na rua, seguido dos ambientes acadêmicos (escola/faculdade) e da própria casa da vítima. Além disso, mais de 50% da comunidade LGBT em Curitiba  já pensou em suicidio.

Crimes de homofobia, como o exemplificado pelo que Fernando passou,  marcaram a história da cidade. Em 2005, o homem negro e homossexual Willian Cardozo foi linchado por um grupo neonazista no centro de Curitiba, que, ao agredir o jovem, gritava “negros e gays devem morrer”. Após 14 anos, em 2019, sete dos agressores foram condenados pelos crimes de lesão corporal, associação criminosa e racismo. A vítima entrou com um pedido de indenização de R$ 50 mil contra um de seus agressores, e se tornou vitorioso apenas em 2020.

O professor de portugês Onírio Carlos Silvestre foi morto em seu apartamento no centro de Curitiba em dezembro de 2021. Onírio era militante contra LGBTfobia e as circunstâncias de sua morte podem apontar para crime de homofobia.

Apesar de todo o preconceito sofrido na cidade, a população LGBTI+ tem ganhado espaço em Curitiba. A travesti Gilda, embora tardiamente, recebeu uma homenagem na Boca Maldita, local onde a pessoa em situação de rua morava . Ano passado, a Prefeitura lançou a Cartilha da Diversidade Sexual.

Na esfera privada, por outro lado, muitas iniciativas avançam para dar mais visibilidade à população LGBTI+. Estabelecimentos como O Pão Que o Viado Amassou e o Cosmos Gastrobar apresentam pautas e questões LGBTs em seu trabalho. 

A ONG Mães Pela Diversidade, por exemplo, foi criada em 2014 e tem como intuito abraçar mães e pais de pessoas LGBTI+. Inspirada por comunidades e páginas em redes sociais que comprovaram a angústia causada pelo medo da violência, a ONG nasceu para lutar pelos direitos civis, mas foi se reformulando até chegar a seu estado atual, no qual ampara pais de pessoas LGBTQIA+, tanto psicologicamente quanto juridicamente.

A presidente da ONG, Maju Giorgi, discorreu sobre o que leva pessoas a procurarem a organização. “Quando a mãe chega pra nós, ela chega detonada. Quando o filho se assume, ela passa a ser alvo do preconceito, inclusive de sua família mais próxima. Os pais não querem mais falar com ela, o cunhado não quer que o filho ande com o filho dela… a LGBTfobia é um destruidor de famílias”, explica.

A militante também comenta que, às vezes, as pessoas a questionam sobre o orgulho LGBT.  “É pra se contrapor à vergonha que as pessoas querem que os LGBT’s e suas famílias sintam. O controle social feito sobre eles é através da vergonha. O pai da pessoa pode trabalhar na roça ou ser CEO da maior multinacional da Faria Lima, que vai passar o dia ouvindo piadas homofóbicas ou transfóbicas, e ele tem um filho gay em casa e morre de vergonha”.

 

Mais informações sobre a história da ONG e formas de contato estão no site maespeladiversidade.org.br.

 

 

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