Curitiba registra mais de 500 pedidos por ano para a retirada de enxames de abelhas

por Maria Eduarda Cassins
Curitiba registra mais de 500 pedidos por ano para a retirada de enxames de abelhas

Os ataques dessa espécie são frequentes apesar da grande possibilidade de extinção

Por Maria Eduarda Cassins | Foto: Pixabay

 

A alta quantidade das abelhas pela capital paranaense surpreende a população leiga devido as taxas de extinção que esse inseto sofre. Logo no primeiro trimestre de 2022, foram registradas no canal do 156, 24 reclamações em Curitiba, com predominância no bairro Cidade Industrial (CIC). As reclamações frisam a necessidade de remover as colônias de abelhas presentes na capital, essa ação realizada de forma errônea é a principal causa dos ataques. 

Nos últimos dois anos, o Brasil alcançou a marca de 454 mortos após ataques de abelhas, segundo dados disponibilizados por pesquisas da EMBRAPA. No Paraná, o Departamento de Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), mapeou os casos envolvendo animais peçonhentos em todo o estado, o que registrou os ataques de abelha como um pouco mais que 2% desses casos, mas esse número segundo os pesquisadores, é baixo devido a quantidade exuberante de casos não notificados e subnotificados. 

Mesmo sem prestar serviços ou socorros, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba orienta a população a entrar em contato com a Associação Paranaense de Apicultores (APA) para a retirada dos enxames. A própria entidade social, porém, não cumpre esse papel, mas indica profissionais particulares que fazem o serviço de apicultura em Curitiba.

O diretor da APA do bairro Portão, Felipe Monteiro, relata que a alta das denúncias e pedidos sobre os enxames é sempre na época entre outubro a março. “Recebemos em média 500 ligações pedindo a retirada dos enxames, mas em contrapartida, estamos tendo que praticamente ‘alimentar’ as abelhas para render em mel, a polinização está cada vez mais preocupante”, finaliza o apicultor.

O apicultor João Carlos é parceiro de Monteiro há 18 anos. É o profissional de recomendação dos pedidos de retirada que chegam na APA. “A maioria das pessoas já me procura desesperadas para a retirada do enxame, então o que eu sempre digo é: não mexa com as abelhas! Não cutuque, não taque fumaça e muito menos vá tirar sem saber, procure um apicultor o mais rápido possível para que nem o inseto e nem a pessoa se machuque”, aconselha e finaliza o profissional.

Ataques e a relação com a extinção

O registro de ataques de abelhas é pouco falado, mas tem um crescimento constante desde o ano de 2017 em Curitiba, com casos de até ferimentos graves. Fontes de reportagens realizadas pelo portal Tribuna no final daquele ano, relataram que duas mulheres foram hospitalizadas após sofrer um desses ataques e uma delas ficou em estado grave com dezenas de picadas no rosto. No ano seguinte, mais uma matéria foi publicada por esse portal alertando que alguns dos pedestres que andavam pela Praça Tiradentes foram surpreendidos com um enxame de abelhas, o que provocou o desespero daquelas pessoas, principalmente após um menino se jogar e começar a rolar no chão em agonia, mas logo foi socorrido por um bombeiro. 

Esse cenário ocorre constantemente na capital paranaense. No ano de 2019 também foram registrados ataques graves feitos pelo Comando do Corpo de Bombeiros do Paraná (CCB). O mais sério foi o enxame direcionado a uma estação tubo de ônibus no bairro Portão, o que acarretou a ida para o hospital de cinco pessoas.

As abelhas são uma espécie de insetos que atacam por instinto de proteção e defesa de suas colônias. As responsáveis por exercer esse papel são as abelhas operárias que morrem logo após perderem o ferrão na picada, etapa na qual também é liberado um feromônio que chama outras abelhas para atacarem o mesmo alvo. Contudo, existem mais de 20 mil espécies de abelhas que cumprem diversas funções essenciais para a vida.

A capital paranaense conta com Jardins de Mel, “casinhas” de abelhas  espalhadas em diversos pontos da cidade e cheias de abelhas sem ferrão. Felipe de Jesus, secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, ressalta que o objetivo desse projeto é tornar a população mais consciente sobre a importância das abelhas para o equilíbrio da biodiversidade do planeta e contribuir por meio da polinização, aumentando a qualidade e a produção das hortaliças plantadas pelos agricultores da região.

Dados levantados da pesquisa feita pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) com apoio da ONU indicam que 40% das espécies de abelha correm risco gravíssimo de extinção. Outro estudo publicado pela revista Science mostra que a principal causa desse ocorrido é culpa dos seres humanos, uma vez que a probabilidade de uma população de abelhas sobreviver em qualquer local da terra diminuiu 30% no decorrer de uma única geração humana.

A comparação dos ataques das abelhas e dos abalos que a humanidade causou para essa espécie, são gritantes. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO – na sigla em inglês), 70% das culturas de alimentos dependem das abelhas. Dito isso, a extinção das abelhas não só afeta gravemente a fauna e a flora como também a alimentação humana. 

Dessa forma, os ataques devem ser evitados com a população acionando profissionais qualificados para cumprir a função sem ferir o inseto, procurando assim, valorizar e preservar a vida de ambos.

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