Onde mora a desigualdade

por Maria Eduarda Souza
Onde mora a desigualdade

Dados evidenciam a desigualdade racial no mercado de trabalho em Curitiba e nas capitais mais populosas do país.  

Por Maria Eduarda Souza

No Brasil, a discriminação racial é um obstáculo que afeta diferentes camadas da população no mercado de trabalho. Segundo o Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho do SmartLab e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), quando se trata da variável raça/cor as diferenças são ainda mais perceptíveis. Nas dez capitais mais populosas do país, a remuneração média dos trabalhadores diverge entre amarelos, brancos, pardos, pretos e indígenas. 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as capitais mais populosas do Brasil são, respectivamente, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Recife e Goiânia. Dentre as dez cidades mencionadas, Curitiba aparece em sexto lugar com a maior diferença de salário entre duas raças, perdendo somente para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Manaus. Na capital paranaense, a população amarela possui a melhor remuneração. Em contrapartida, os indígenas recebem o pior salário. A discrepância entre ambos é de R$1,9 mil. 

Quando avaliada somente a diferença entre o percentual de negros e brancos em posições de direção, a segregação racial se torna evidente. Neste quesito, das dez capitais mencionadas, Curitiba é a mais desigual, com apenas 9,7% de pessoas pretas em cargos de direção, em contrapartida aos 90,3% de brancos.

Para Sérgio Luis do Nascimento, professor de filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e especialista em relações raciais e direitos humanos, os dados são um reflexo de uma realidade sócio racial que se mantém até os dias atuais em Curitiba. “É um racismo  estrutural que imprime marcas, legados, e mais do que isso perpetua ideologias que se transformam em crenças de afirmação, onde certos grupos devem ocupar determinados cargos.”

No entanto, apesar de Curitiba apresentar o maior contraste entre pessoas pretas e brancas em cargos de direção, ela é a capital com maior percentual de pessoas negras no sul do Brasil. Segundo o último levantamento de 2017 do IBGE, 24% da população na cidade paranaense se declararam como negras. 

Assim, uma das possíveis explicações para a desigualdade racial no mercado de trabalho na capital do Paraná, e em outras cidades do Brasil, é a falta leis que garantam o acesso dessas pessoas a oportunidades profissionais. De acordo com o SmartLab, ainda são poucas as iniciativas que visam a proteção social e a garantia dos direitos dessa parcela da sociedade. 

Dados de um levantamento feito pelo IBGE em 2014, demonstram que das dez capitais mais populosas do país, apenas São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador possuem uma legislação específica que garante a população negra ou afrodescendente vagas em concursos públicos municipais. Para Denis Denilton Laurindo, responsável pela Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (Sudis), e coordenador da Assessoria de Igualdade Racial do Governo Estadual do Paraná, as leis são importantes, mas em sua ausência o que tem garantido o mínimo para população negra hoje em Curitiba e nas demais capitais, é a mobilização social. 

Laurindo afirma ainda que apesar de Curitiba não contar com uma lei para inserção da população negra no mercado de trabalho, por meio de concursos públicos, o estado do Paraná possui um Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial. “Hoje é um dos únicos estados com recursos para aplicar instrumentos de combate ao racismo”, ressalta. 

 

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