Sebo reúne acervo de literatura paranaense

por Eduardo Veiga Nogueira
Sebo reúne acervo de literatura paranaense

Os leitores encontram no centro de Curitiba autores clássicos, novidades e obras raras

Por Eduardo Veiga Nogueira | Foto: Allanis Menuci

“O Dalton Trevisan entrava na loja e não falava com ninguém. Chapéu cobrindo o rosto, quieto. Ele passava pelo balcão e subia direto para a parte de cima”, conta Rosângela Lucilhia Navarro, proprietária do Sebo Líder 2, em Curitiba. A “parte de cima” é o primeiro andar do sebo, onde estão os livros mais raros do acervo. Já as prateleiras debaixo se destinam, entre outras sessões, a oferecer literatura paranaense aos leitores.

As estantes focadas em livros regionais estão no sebo desde a sua criação, há 15 anos. “Sempre tem pessoas buscando obras raras do Paraná. Não só literatura, mas também livros que contam a história do nosso estado”. O objetivo é “reciclar aquilo que estava perdido, fora de catálogo”, comenta a proprietária.

Em três locações diferentes no Centro (R. Emiliano Perneta, 424 – R. Cândido Lopes, 340 – Av. Mal. Floriano Peixoto, 461), o Sebo Líder, frequentado pelo Vampiro de Curitiba, preserva a literatura paranaense com um acervo de cerca de 180 livros de autores locais. Os títulos variam de escritores consagrados a nomes menos conhecidos pelo grande público.

Um exemplo de raridade que esteve nas prateleiras é a obra Catatau – primeiro livro em prosa do curitibano Paulo Leminski -, lançado em 1975. “Durante muito tempo ele não foi reeditado. Nós tínhamos exemplares antigos na loja e as pessoas vinham procurá-lo aqui. Era muito difícil achar em outro lugar”, comenta Rosângela. Leminski é um dos autores mais procurados, juntamente com Cristóvão Tezza (best-seller com a obra O filho eterno) e o próprio Dalton Trevisan.

Também é possível encontrar nas prateleiras Roberto Gomes, catarinense que mora em Curitiba desde 1964 e “anda esquecido” no cenário regional, de acordo com o escritor Otto Winck, professor de Literatura da PUCPR. Em Os dias do demônio, romance escrito por Gomes, é narrada a história de uma revolução popular que acontece no sudoeste do Paraná. 

“Ao contrário do gaúcho, do baiano e do pernambucano, por exemplo, o paranaense não é bairrista. Isso é negativo no sentido da falta de divulgação dos artistas locais. Além disso, as universidades paranaenses costumam não indicar autores paranaenses na lista do vestibular. Também não há linhas de pesquisa em programas de pós-graduação que estudem autores paranaenses”, diz Wink.

O especialista ainda problematiza a atenção do poder público à literatura regional, segundo ele, deficitária. O surgimento de editoras locais nos últimos 10 anos, como Arte e Letra e Kotter, favorecem a projeção de escritores novos. Os sebos, na opinião do professor, também contribuem com o mercado de literatura. “Por meio deles, houve uma espécie de retorno das livrarias de rua na capital, que haviam desaparecido. As livrarias foram para os shoppings, o que torna a arte e a cultura muito elitizadas”.

A proprietária do Sebo Líder 2, Rosângela Lucilhia Navarro, ressalta também o fator da proximidade como um ponto de valorização da literatura local. “Aparecem pessoas perguntando de um livro que tem o nome do avô ou tem uma rua conhecida. Pode ser algo que aparentemente não tem valor nenhum, mas conta a história de uma família”.

As obras do já citado Cristóvão Tezza se passam majoritariamente em Curitiba. O cenário das histórias de Domingos Pellegrini, autor nascido em Londrina e também encontrado no sebo, é justamente a capital do café. “É legal você ler um romance e viajar, andar pelas ruas de São Petersburgo, Paris, Barcelona, Roma e Nova York. Mas também é uma experiência legal você reencontrar a sua cidade nas obras de ficção”, observa Winck.

 

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