Variante delta já é predominante em Curitiba, diz pesquisador da UFPR

por Ivan Martins Cintra
Variante delta já é predominante em Curitiba, diz pesquisador da UFPR

A nova cepa do coronavírus é muito preocupante e muito contagiosa, diz Emanuel Maltempi de Souza, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR

Por Ivan Cintra, João Caetano, Adriano Sirius, Juliana Boff e Lua Beatriz | Foto: Igor Barrankievicz

A variante delta já representa mais de 70% dos casos de coronavírus em Curitiba, segundo dados de genotipagem. O estudo foi realizado com coletas de amostras positivas pela UFPR. Identificada na capital paranaense pela primeira vez, em maio de 2021, as infecções com a variante indiana cresceram muito entre os meses de agosto (quando a cepa representava 46%) e setembro (70%), os casos podem causar novos surtos. De acordo com dados divulgados pelas autoridades dos Estados Unidos, a eficácia das vacinas Pfizer e Moderna contra covid-19 caiu de 91% para 66% desde que a variante delta dominou o país. A nova cepa pode trazer um cenário preocupante em Curitiba.

Mesmo com mais de 911 mil pessoas com a imunização completa, Curitiba tem a delta como predominante entre os casos de Covid-19; em outros países onde a cepa foi detectada, uma parcela maior da população já havia sido vacinada. Mesmo que as vacinas previnem hospitalizações e mortes, a proteção diminui em populações mais velhas, fazendo com que alguns países começassem a aplicar uma terceira dose de reforço. Dentre os países que já iniciaram o processo de aplicação da terceira dose, está o Brasil – em Curitiba, 18.458 pessoas receberam a dose de reforço até o momento, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.

A delta é muito preocupante e muito contagiosa, diz Emanuel Maltempi de Souza, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR. Para o pesquisador, a nova cepa pode ser mais violenta para alguns grupos, inclusive para crianças. Emanuel chama a atenção para a importância da vacinação, “a situação dos EUA nas últimas semanas, ficou desastrosa e não foi por falta de vacina, mas foi por resistência de uma parcela da população em tomar a vacina (…) os números subiram demais, passaram de 100 mil casos por dia, e os óbitos voltaram a casa de mil por dia”. Isso poderia acontecer no Brasil se a taxa de pessoas que recusam a vacina fosse maior, mas os 5% atuais não oferecem grandes riscos à população geral. No entanto, o professor alerta,  “se nós tivermos a variante Delta circulando na nossa comunidade (…) eventualmente essa variante vai chegar nesses 5% que não estão vacinados. Uma parcela desses 5% será internada e terá doença grave, isso é inquestionável que aconteça”.

Emanuel também criticou o atraso da vacinação, Curitiba vacinou cerca de 70% da população, mas ainda existe uma grande parcela de pessoas acima de 18 anos que ainda não receberam a primeira dose. “Esse atraso significou que muita gente morreu, e outro problema é que as pessoas que foram imunizadas em fevereiro já estão perdendo a imunidade, principalmente os mais idosos por terem o sistema imune mais frágil. Já está na hora de revacinar essas pessoas”.

O avanço da variante delta torna imprescindível o uso correto da máscara. As máscaras do tipo PFF2 ou KN95 são as que mais protegem contra o vírus, visto que são capazes de bloquear as partículas expelidas pela respiração ou fala. Por outro lado, as máscaras de pano são mais confortáveis, mas não oferecem a mesma proteção, pois a trama do tecido permite espaços para tais partículas passarem. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em documento com especificações técnicas sobre máscaras faciais de uso não profissional, o ideal é que a máscara de pano seja composta por três camadas de tecidos diferentes, mas nem sempre essa regra é seguida. Finalmente, as máscaras cirúrgicas descartáveis têm uma boa capacidade de filtragem, mas os espaços deixados nas laterais tornam seu uso não tão recomendável. Além disso, como têm alta capacidade de absorção da respiração, recomenda-se trocá-la de 4 em 4 horas.

Pesquisa: jovens vacinados estão deixando de lado as medidas de distanciamento e proteção?

Entre os mais jovens, a preferência é pela máscara cirúrgica descartável. Das 91 pessoas que participaram da pesquisa, com idade entre 16 e 34 anos, 34 optaram pela máscara descartável, seguido por 31 que escolheram PFF2/KN95 e 26 que preferem a máscara de pano.

Além das máscaras, os demais cuidados devem continuar, como manter o distanciamento social, evitar aglomerações, realizar higiene das mãos e receber as doses da vacina. Todas as pessoas que foram ouvidas já estão com o esquema vacinal completo (duas doses ou dose única) ou já receberam a primeira dose da vacina, e mantêm o hábito de higienizar as mãos com sabão ou álcool em gel.

No que tange ao distanciamento social, à medida que a vacinação avança, as pessoas se sentem confortáveis para frequentarem lugares como bares e/ou restaurantes. 32 pessoas afirmaram que passaram a frequentar tais lugares após receberem a primeira dose da vacina ou completarem a imunização. Mais de 90% moram com mais pessoas em casa, o que pode tornar o risco de infecção mais alto, visto que mais da metade trabalha ou estuda presencialmente (54,9%).

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