Entidades de Curitiba prestam assistência a moradores de rua durante a pandemia

por João Américo Harrich Goulart
Entidades de Curitiba prestam assistência a moradores de rua durante a pandemia

Grupos prestam assistência à moradores de rua, contrariando Janaína Paschoal, do PSL, que criticou atitude do Padre Júlio Lancelotti, causando uma série de discussões sobre a importância do serviço social

Por Isabella Naime, Isadora Miranda, João Américo Goulart e Luís Gustavo Schuh Bocatios

No Sábado (07 de agosto), a deputada Janaína Paschoal (PSL – SP) iniciou uma polêmica em seu Twitter ao criticar o padre Júlio Lancelotti – conhecido por ser um dos sacerdotes mais ativos em ações sociais e de caridade – por sua ação de distribuir alimentos entre os moradores da Cracolândia. “A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime”, declarou a parlamentar.

A polêmica iniciou uma série de discussões sobre a importância da assistência social, especialmente no período de pandemia, no qual o número de pessoas em situação de rua aumentou.

De acordo com Nádia Elias Salgado, assessora de comunicação da FAS (Fundação de Ação Social): “O Cadastro Único do Governo Federal, que também é preenchido pelas equipes da Prefeitura, aponta 2.708 pessoas em situação de rua, nos últimos dois anos (junho de 2019 a maio de 2021).  Mas é importante destacar que esse cadastro é auto declaratório e que requer atualização constante.”

A prefeitura de Curitiba monitora constantemente pessoas em situação de rua. Os dados são obtidos através da própria população, que utiliza a central de atendimento 156 da prefeitura de Curitiba. Já foram registradas 1849 pessoas em situações de rua nos últimos 12 meses.

A importância das organizações que realizam o trabalho social

Para Márcia Nagata, assistente social aposentada da prefeitura de Curitiba, a ação do Padre Júlio Lancellotti e a fala da deputada Janaína Paschoal não podem ficar presas à arquétipos de esquerda e direita. “Como assistente social, acredito que qualquer ação isoladamente, seja de redução de danos, repressão, higienista ou a internação compulsória, não darão conta da complexidade desse espaço conhecido como Cracolândia”. Nagata ainda complementa: “Não é o prato de alimento que mantém essa realidade, assim como não é ele que resolverá tal complexidade.”.

De acordo com Nagata, “O terceiro setor é o termo utilizado para nominar instituições privadas que trabalham em serviços públicos sem fins lucrativos. A importância das entidades presentes no terceiro setor é alcançar a parcela da população que o estado, por vezes, ignora ou negligência.”.

Entidades de Curitiba buscam ajudar a população de rua

Na cidade de Curitiba, há alguns grupos que buscam prestar assistência à moradores de rua, como a ONG “Aquecendo Corações”, que foi fundada no ano de 2016, pelo casal Stella Maris Soares da Silva e Ernani Bindo.

“Começamos como mais um casal a entregar sanduiches e café a noite pelas ruas de Curitiba no inverno. O grupo de amigos foi crescendo, ampliamos para roupas, cobertas e itens de higiene, além do sanduíche, café e sempre conversa, abraço e carinho, já que a ideia era aquecer o coração”, contou Stella.

Ela também explicou que o lema da ONG é “ajudar a todos que precisam, sem preconceito ou pré-julgamento, não importa se é usuário de drogas, ex-presidiário, alcoólatra, enfim, não cabe a nós julgar”.

Um dos serviços prestados pela ONG é um carro móvel que circula pela cidade oferecendo banhos aos moradores de ruas. “A pergunta sempre era como vestir a roupa estando sujo, então veio o sonho de ter carro móvel de banho e começamos o projeto de construir um, mas acabamos ganhando um que tivemos que fazer apenas adaptações, então podíamos levar banho quente com roupas e toalhas limpas e higienizadas, comida e café duas vezes por semana”, relatou a fundadora da ONG, que também disse que, durante um ano, o carro atendia cerca de 100 pessoas por semana.

Carro de banhos da “Aquecendo Corações”. Foto: Stella Maris Soares da Silva

Ela também contou sobre os desafios que a pandemia trouxe ao projeto. “Quando veio a pandemia tivemos que parar e passamos a entregar apenas comida. Recebemos muitas cestas básicas que distribuímos à famílias em vulnerabilidade. Além disso, conseguimos fazer alguns resgastes de pessoas das ruas.”, disse Stella.

Sobre a atual situação da ONG, ela relatou que “sempre precisamos de doações de roupas, calçados, itens de higiene, máscara, café, leite.” Mais informações sobre como ajudar podem ser encontradas na página do Instagram do projeto.

Voluntários da “Aquecendo Corações” entregam mantimentos a moradores de rua. Foto: Stella Maris Soares da Silva

Outra entidade importante na capital paranaense é a “UTFPR Solidária”, idealizada por professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

A ideia surgiu no início da pandemia como forma de auxiliar as pessoas em situação de vulnerabilidade social. A campanha tem ajudado mensalmente centenas de famílias necessitadas de Curitiba e região metropolitana, e a organização estima que foram entregues mais de cinquenta toneladas de alimentos a partir da distribuição de cestas básicas desde Abril de 2020.

A “UTFPR Solidária” realiza vários serviços de assistência social, como a realização de doações de itens de primeira necessidade – como cobertores, agasalhos, cestas básicas e álcool gel – para moradores de rua, comunidades em situação de vulnerabilidade social e imigrantes haitianos que residem em Curitiba.

Voluntários da “UTFPR Solidária” realizam doação de alimentos para pessoas em situação de rua. Foto: Reprodução/Instagram

Com a pandemia, a doação de álcool gel foi ampliada e também chegou a comunidades de indígenas e lares de idosos, e a doação de cestas básicas também foi feita para músicos desempregados. Além disso, o projeto realiza campanhas de natal e dia das crianças, nos quais faz a doação de brinquedos e livros infantis para comunidades de Curitiba e região metropolitana.

As famílias são selecionadas a partir de cadastro realizado pela Incubadora de Economia Solidária, e também por parcerias com Movimentos, associações de moradores, igrejas, coletivos, lideranças sociais e outras pessoas que atuam em ações sociais de Curitiba e região metropolitana.

Entrega de cestas básicas, álcool gel e máscaras para comunidade em Colombo. Foto: Reprodução/Instagram

A ação ocorre a partir da parceria com o “Movimento Nacional das Pessoas Em Situação de Rua” – que prepara marmitas para distribuição entre moradores de rua em Curitiba todos os dias – e com o “MST”, o “Movimento dos Sem-Teto” – que auxilia na preparação das marmitas às quartas-feiras.

“Estamos trabalhando para ajudar pessoas e incentivar a solidariedade dentro e fora da UTFPR. As pessoas podem doar o que puderem. Certamente fará diferença na vida de quem precisa”, contou Nanci Stancki da Luz, uma das organizadoras da “UTFPR Solidária”. Para mais informações sobre como ajudar a iniciativa, acesse o Instagram do projeto.

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