Ensino infantil enfrenta dificuldades nas adaptações durante a pandemia

[et_pb_section admin_label=”section”]
[et_pb_row admin_label=”row”]
[et_pb_column type=”4_4″]
[et_pb_text admin_label=”Text”]
Volta às aulas no modelo híbrido arcará com as consequências de mais de um ano com aulas somente no modelo remoto
Por Julia Amaral, Lívia Berbel, Thaynara Goes e Victor Gambetta | Foto: Julia Amaral
No dia 16 de agosto (segunda-feira), mais uma parcela dos alunos da rede municipal de Curitiba que optou pelas aulas no formato híbrido, retornou às escolas. Após um ano e meio estudando através do sistema remoto, os alunos que agora começam a voltar à presencialidade, trazem para as salas de aulas as lacunas educacionais consequentes da adaptação ao ensino remoto.
Inicialmente, a prefeitura pediu para que pais ou responsáveis preenchessem um formulário escolhendo o formato de ensino. Os formatos propostos pela Secretaria Municipal de Educação foram o híbrido, com aulas remotas e presenciais, e o sistema totalmente remoto, contando com atividades pedagógicas individuais e as videoaulas.
O regresso às aulas presenciais tem sido feito respeitando o Protocolo de Retorno das Atividades Presenciais, manual estabelecido pela Prefeitura Municipal de Curitiba para assegurar o respeito às medidas sanitárias necessárias. Isto é, seguindo sempre o limite de até 50% de ocupação nas escolas, e utilizando o retorno escalonado, o que garantirá que esse número seja ainda menor.
No entanto, a adaptação dos alunos não será tão simples quanto pode parecer. Segundo o relatório técnico feito pela organização Alfabetização em Rede entre junho e setembro de 2020 e divulgado pela Revista Brasileira de Alfabetização, as mudanças que a pandemia trouxe para o ensino básico foram muito além da adoção de novas medidas sanitárias, a implantação do ensino remoto provocou alterações curriculares e pedagógicas.
A professora do ensino infantil Patrícia Giovana de Morais, que leciona em Curitiba há 19 anos na Escola Municipal Moradias do Ribeirão, afirma que adaptar o ensino pra modalidade a distância foi um grande desafio, principalmente para os estudantes com pouco apoio familiar: “O principal é a estrutura familiar, uns tem e outros não. […] Tem crianças que tem mais autonomia e conseguem se organizar sozinhas. Outras não, precisam de mais apoio e estímulo de algum adulto.” A professora também alega que a maior dificuldade do ensino remoto foi criar atividades sem conhecer a personalidade dos alunos, mas que busca aplicar a metodologia sociointeracionista, que é a utilização de elementos do cotidiano nos exercícios para despertar o interesse das crianças na realização de tarefas.
Para Cinara Glasenapp, mãe de Nathan Glasenapp de 8 anos e aluno do 4° ano do ensino fundamental, as maiores queixas de seu filho são relacionadas a falta de interação com seus colegas, e a dificuldade de entender os conteúdos propostos sem o auxílio de professores: “Apesar de eu estar ao lado dele o auxiliando, eu não consigo exercer o papel da professora’’. Cinara ainda diz que notou mudanças no comportamento de Nathan desde o início do ensino remoto: “O Nathan não apresentava dificuldades antes, ele conseguia acompanhar a turma e os problemas surgiram com a suspensão das aulas […] ele teve mudanças na forma como se expressa, ele se tornou uma criança mais ansiosa e nervosa o fato dele estar em casa não ter o convívio com os coleguinhas o afetou bastante […] ele se apegou muito ao celular e aos jogos eletrônicos.” Confira mais detalhes da entrevista em:
Nathan assistindo uma vídeoaula.
Nesse sentido, Marcia Luiza Rossi, pedagoga há 16 anos, diz que o uso da tecnologia no ensino remoto é muito complexo:” O tempo de atenção deles já é muito curto no presencial, no remoto, então, é menor ainda. Presencialmente, a internet é uma ferramenta muito boa, remotamente, no período de pandemia, é quase impossível fazer um meet com crianças pequenas. Elas não conseguem ficar duas horas sentadas na frente de uma tela”.
A especialista ainda cita uma grande falta de apoio do poder público, afirmando que eles foram opostos ao sistema de aula online, o meet: “Eles foram contrários a isso, visto que disponibilizaram as aulas pela televisão. Temos que perguntar ao poder público o que eles vão fazer para garantir o aprendizado das crianças, quais políticas públicas eles vão desenvolver. Antes da pandemia nós tínhamos reforço escolar, a prefeitura cortou esse reforço faz três anos. Vai tudo ficar, de novo, nas costas do professor?”. A pedagoga diz que as sequelas deixadas por esse período serão sentidas por pelo menos mais 4 anos e que é preciso acolher as crianças na fase pós pandemia: “Eu não tenho dúvidas que vão ficar lacunas, porque o ensino não é o mesmo […] vamos fazer avaliações diagnósticas para ver em que pé estamos. Cada criança vai estar em um momento da aprendizagem. Enquanto escola, nós vamos fazer o que é possível”. Confira mais detalhes da entrevista em:
O estudo feito pela organização Alfabetização em Rede realizado com 14.730 membros do corpo docente de escolas ao redor do Brasil mostra que além das alterações das alterações no sistema de ensino, 57% dos professores pensam que a maior dificuldade do ensino remoto é conseguir que os alunos realizem as atividades propostas. Além disso, 33% dos entrevistados afirmam que outro desafio é a realização de atividades que demandem ajuda de pais ou responsáveis. Ou seja, agora, com a volta às aulas presenciais, os alunos terão espaços a serem preenchidos.
O que diz a prefeitura
Além das pesquisas recentes que vem demonstrando as dificuldades que serão encontradas no retorno das aulas presenciais, pais, professores e pedagogos fazem críticas à administração da Prefeitura em relação ao ensino, porém a Prefeitura Municipal de Curitiba diz que tem realizado propostas para diminuir os impactos que a pandemia causou no ensino. A Prefeitura afirma que todas as crianças estão recebendo mediação pedagógica agora em ambos os sistemas, remoto e híbrido, e que professores receberam auxílio da prefeitura, a qual desenvolveu um material de acordo com as produções realizadas por alunos no ano de 2020. Segundo a secretaria: “A aprendizagem foi mapeada e analisada ao longo de 2020, o que deu origem aos 22 volumes de todas as áreas do conhecimento do Ensino Fundamental (os Cadernos Pedagógicos de Unidades Curriculares de Transição). Os cadernos servem para subsidiar o trabalho do professor em sala de aula. Cada um trabalha os conteúdos, de acordo com o Currículo e a necessidade de seus estudantes.” Consulte os Cadernos Pedagógicos de Unidades Curriculares de Transição.
A rede estadual
Já na rede estadual de ensino, o retorno à presencialidade iniciou no dia 21/07, com cerca de 90% das 2.100 escolas funcionando. Algumas instituições retomaram o ensino presencial com todas as turmas frequentando, outras optaram pela parcialidade, escalonando turmas por dias da semana. A modalidade presencial não é obrigatória, e os pais ou responsáveis que optarem por esse sistema deverão preencher um termo de responsabilidade, disponibilizado pela Secretaria Estadual de Educação. Os alunos que preferirem prosseguir no ensino remoto, continuarão assistindo aulas online e usando as plataformas digitais, como o Google Meet e o Escola Paraná, assim como também poderão fazer a retirada do material pedagógico impresso.
[/et_pb_text]
[/et_pb_column]
[/et_pb_row]
[/et_pb_section]