Santa Felicidade é exemplo na mobilização social

Com a realização de projetos comunitários e investimentos, o bairro de Santa Felicidade é modelo de organização urbana e administração social
Helene Mendes, Leonardo Henrique e Paula Braga
Santa Felicidade é uma região gastronômica de Curitiba, consequentemente contém alta rotatividade turística e mendicância. Porém, o bairro não possui concentração de moradores em situação de rua. Segundo informações do Centro De Referência Especializado De Assistência Social de Santa Felicidade, muitos pedintes e vendedores ambulantes são atraídos para o bairro, mas não existe grande quantidade de moradores de rua nesta região.
Nos últimos meses o CREAS confirmou que não houve crescimento de pessoas procurando vagas nas casas de acolhimento e que Santa Felicidade é um bairro de destaque no aspecto social. Em julho de 2019, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), divulgou o total de 2,3 mil pessoas em situação de rua em Curitiba, incluindo os que estão abrigados em casas de apoio e albergues municipais. No total de 1,7 mil moradores menos de 3% estão nas ruas de Santa felicidade.
A professora de Sociologia Talita Rugeri explica que o aumento dos moradores de rua de Curitiba e região está associado com o crescimento consequente da pobreza e desigualdade. “As pessoas que acabam morando na rua geralmente procuram a região central.” Sobre Santa Felicidade ela diz: “É um bairro tradicional de Curitiba, branco, de origem tradicional Italiana, turístico, de famílias, na sua grande maioria de classe alta, então esses moradores não têm procurado o bairro por algo específico.”
Rugeri também exemplifica sobre o termo gentrificação. No caso de Santa Felicidade sua construção como colônia, desde sempre, priorizou os espaços nobres e comerciais. Sendo um bairro conceituado como desenvolvido. Suas tradições e história naturalmente fazem com que o bairro seja organizado socialmente e permaneça como uma região de visibilidade.
A diarista Glória Cruz é moradora de Santa Felicidade a mais de 20 anos e diz presenciar ações sociais realizadas pela comunidade em benefício de todas as classes. “Eu frequento a Paróquia São José aqui do bairro, vejo muito a igreja ajudar as pessoas. Várias vezes já vi gente chegando aqui para receber doações de roupa quente e pedir alimento”.
Glória também confirma que são realizados bazares beneficentes e explica sobre a Organização que ajuda famílias carentes: “Eu conheço o Cantinho da Misericórdia, eles tem uma placa escrito: Comida Para Quem Tem Fome, os catadores e moradores de rua podem almoçar e levar a comida que é oferecida”.
Eventos tradicionais como a Festa da Polenta e a do Vinho ocorrem anualmente no Bosque São Cristóvão, e são um dos principais investimentos e meios de arrecadação de fundos para os necessitados da comunidade. No último mês, moradores de Santa Felicidade e São Braz se reuniram para discutir a criação do Conseg, um Conselho Comunitário de Segurança que representa uma organização social e o exercício de cidadania para a região local. O que indica que o nível da qualidade de vida no bairro tende a crescer de forma generalizada.
Além disso, Santa Felicidade será local do Medieval Market Beltane Fest, que ocorrerá em novembro deste ano. Um evento que irá coletar alimentos não perecíveis na entrada com intuito de destiná-los à LBV (Legião da Boa Vontade), uma instituição sem fins lucrativos que atende famílias em situações de risco e vulnerabilidade.
As igrejas também fazem um papel importante em ajudar a comunidade regional. A paróquia mais tradicional, Paróquia São José e Santa Felicidade, disponibiliza cestas com alimentos e kits de higienização para pessoas sem condições.
Segundo o P. Richard Geraldi, gestor da Pastoral, muitos projetos sociais são organizados pela Igreja de Santa, com diversas portas de direcionamento específico, como auxílio para imigrantes, crianças e população carente.
O bairro atrai diariamente centenas de pessoas com interesse em gastronomia, vinícolas e tradições históricas. As características econômicas e culturais da região fez com que tornasse nacionalmente conhecida e muito procurada por turistas, principalmente pelos restaurantes Madalosso, panificadora PaniCiello e o Vinhos Durigan.
O morador de rua de Curitiba Carlos Andrade fala sobre como é a sua rotina diária nesta situação, citando a região de Santa Felicidade: “Tem bastante gente que é preconceituosa e olha estranho, mas tem restaurantes que fazem doação de comida pra gente”.