Rio Belém ainda incomoda os moradores na Vila das Torres

Na regional mais rica de Curitiba, moradores sofrem com poluição e problemas de saneamento básico
Por Felipe Worliczeck Martins, Guilherme Araki, Vinicius Bittencourt | Foto:
Curitiba é a capital com o melhor saneamento básico do país, como mostra os dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental de 2019. Esses números, porém, não refletem toda a cidade de Curitiba, sendo que, a cada 100 mil habitantes, há 24 casos de internações causados por doenças relacionadas à falta de saneamento, como Tifo e hepatite A. Essas doenças também podem ser causadas pela poluição e má regulação de rios, como acontece na Vila Torres, no bairro Prado Velho. Os moradores da região sofrem com os problemas trazidos pela poluição do Rio Belém, como inundações e alagamentos, por exemplo.
A comunidade é situada na Regional Matriz, a maior e mais rica da cidade, porém sofre com a falta de atenção do poder público, segundo seus moradores. Existe também na região o problema da falta de moradia e de moradias irregulares, pessoas que vivem em situação de pobreza. Lucimara, moradora da Vila Torres aponta os problemas também de limpeza e falta de apoio referente a saúde mental e dependentes químicos, além da poluição, acúmulo de resíduos e falta de canalização no rio. Sobre a gestão municipal, a moradora ressalta “só foram feitas promessas”.
O Rio Belém nasce e deságua no município de Curitiba e é o principal rio da Bacia Hidrográfica do Rio Belém. Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o rio apresenta o maior índice de poluição hídrica da cidade. Além disso, o monitoramento do Instituto Água e Terra do Paraná mostra que boa parte do rio é canalizado na região central da capital, coincidente com a Matriz. Dados da SOS Mata Atlântica do início de 2020 mostram que a qualidade do Rio Belém é ruim, com nota de 25.5 em um ranking que pode ultrapassar os 40 pontos. A região analisada pela pesquisa foi de Uberaba.
Irenilda Arruda, liderança do Clube de Mães União Vila das Torres, também ressalta o mau cheiro junto aos problemas, “parece mais esgoto do que rio, precisa de uma drenagem, afundar mais para evitar enchentes e uma proteção em volta”. A moradora, que hoje tem 54 anos e chegou ao bairro com oito anos de idade, conta ter visto um crescimento acelerado. “Quanto ao saneamento básico, desde quando cheguei aqui melhorou bastante, mas ainda pesa muito os valores que são cobrados. É muito alto. Pela qualidade oferecida, dá pra melhorar mais”, conta Irenilda.
Riscos a saúde
Andrea Krelling, farmacêutica especializada em microbiologia, fala sobre as possíveis doenças que o contato com a água do rio sem tratamento pode trazer, desde parasitas como Tênia, que causam diarreia e podem levar uma pessoa a um internamento, além de hepatite A e até vírus como o Tifo. Além disso, Andrea ressalta que: “ Principalmente na região de Curitiba no Rio Belém , o que a gente vê mais é a leptospirose”, doença essa que pode ser fatal.
A microbiologista também ressalta que a principal medida seria o tratamento da água. Andrea também ressalta que não se pode fazer a ingestão da água direta dos rios, e nem jogar os dejetos nele.
Tentativa de despoluição
Leonardo Manfron, ex-participante do projeto finalizado “Revitalize Rio Belém”, comenta quais eram os objetivos e reivindicações buscadas pelos participantes na esfera ambiental: “Nós buscávamos a despoluição do Rio Belém, pois ele corta bairros e comunidades, principalmente a Vila Torres, que era a vila mais próxima ao TECPUC, lugar onde o projeto foi desenvolvido”.
Ele ainda aponta que os participantes apresentaram o projeto na câmara de vereadores, a fim de discutir propostas de despoluição do rio e trazer visibilidade para esse assunto muitas vezes esquecido pela população e poderes públicos.
No entanto, Leonardo coloca que o resultado obtido não foi o desejado: “No ponto de vista ambiental não chegou nem perto do que a gente esperava. A gente desejava a despoluição do rio, medidas públicas para que não fosse jogado esgoto. Poderia haver uma integração cidade-rio como ocorre em outras cidades. Mas, aqui em Curitiba, o Rio Belém continua sujo e canalizado”.