Apenas 17% das pessoas pretendem voltar a consumir no setor de eventos

por Juliane Capparelli
Apenas 17% das pessoas pretendem voltar a consumir no setor de eventos

O setor é um dos mais afetados pela pandemia e terá lenta retomada, conforme pesquisa das empresas do G5 TWF/COMPETENCE e SUNBRAND

Por Arthur Henrique, Juliane Capparelli e Letícia Fortes | Foto: Jakob Dalbjörn – Unsplash

O setor de eventos conta com apenas 17% da população brasileira predisposta a consumir em entretenimento durante e após a pandemia, o que dificulta a retomada econômica das empresas e profissionais da área. A adoção da medida preventiva de distanciamento social atingiu 98% do setor nacional de eventos e fechou metade dos espaços de eventos no Paraná desde março. Os dados partiram de levantamentos do Sebrae, da seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) e demais entidades ligadas ao setor de eventos. 

Ainda de acordo com a pesquisa do Sebrae, dentro da média nacional de 7 eventos remarcados e 12 eventos cancelados, 35% das empresas negociou crédito para utilização futura, 34% devolveu recursos para o contratante ou algum fornecedor, e 16% não recebeu antecipação de pagamento. No Paraná, a Abrasel-PR estima que sete em cada dez empresas podem fechar no estado, caso os eventos presenciais continuem suspensos até o final do ano. 

O levantamento também afirma que 54% das empresas de eventos tiveram redução do faturamento e 37% não receberam nada em março, no primeiro mês de pandemia. Além destes desafios iniciais, o cenário de dificuldades financeiras para o setor também será uma realidade no período pós-pandemia. O gráfico abaixo destaca que apenas 16,9% dos consumidores possuem interesse em consumir na área de entretenimento com a atual situação, segundo pesquisa das empresas do G5 TWF/COMPETENCE e SUNBRAND.

 

Profissionais do setor criam movimento em busca de apoio

Criado por um grupo de profissionais autônomos do setor de eventos, o movimento “SOS Eventos Curitiba” busca apoio do governo e da sociedade civil para reduzir os prejuízos salariais e para retomar os eventos presenciais com segurança.

A representante do movimento Gislaine de Souza Rocha conta que jamais enfrentou uma crise como esta. “Em números, nosso prejuízo é de cerca de R$ 80 bilhões. Somos mais de milhões de empresários, cerimonialistas, garçons e profissionais autônomos em geral sem trabalho e sem perspectiva de retorno no Paraná, porque muitos colegas tiveram os eventos cancelados, outros remarcados sem data prevista”, afirma Gislaine. 

Diante do prejuízo, Gislaine tomou a iniciativa de reunir o máximo de colegas possível para solicitar o auxílio do poder público ao setor de eventos. “Já fizemos abaixo assinado com mais de 3 mil assinaturas e entregamos na Câmara Municipal para ser enviado à Prefeitura de Curitiba”, conta. 

A proprietária dos buffets Nova Curitiba e Palácio Wawel Jilcy Rink é uma das autoras do abaixo assinado para liberar os eventos corporativos e sociais seguindo os protocolos sanitários. “A gente tem uma cadeia muito grande de pessoas que dependem da gente, como garçons, buffets, doceiras, uma infinidade de pessoas que estão à míngua, que trabalham por taxa e não conseguiram auxílio do governo. Todo mundo tem alguma resposta sobre o que fazer, menos nós”, diz.

No entanto, apesar dos protestos pacíficos nas redes sociais e dos pedidos de ajuda para a Câmara Municipal e a Prefeitura, o setor de eventos só foi atendido pelo governo federal em relação às medidas de reembolso e cancelamento de eventos, por meio da Lei Federal 14.046. Como o setor de eventos ainda não conseguiu o apoio da Prefeitura de Curitiba e do Governo do Paraná, empresários e profissionais se mobilizaram em uma passeata pacífica no feriado de 08 de setembro. Eles pedem pela flexibilização e retorno dos eventos – com o devido respeito às normas sanitárias e ao número máximo de pessoas em uma reunião -, e auxílio financeiro.

 

Lei 14.046 trata do adiamento e cancelamento de eventos

Com o caos gerado pelo adiamento e cancelamento de inúmeros eventos, a Lei Federal 14.046 foi criada com o intuito de resolver essas questões. Entre as principais medidas, ela decreta que os empresários não serão obrigados a reembolsar os consumidores. Porém, os empresários só contam com essa possibilidade caso garantam a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos, e caso a empresa disponibilize crédito para uso ou abatimento na compra de outros serviços. Além disso, o consumidor não deve ter qualquer custo adicional nas negociações, e tem o direito de usar o crédito em até 12 meses, a partir de 31 de dezembro de 2020, de acordo com a nova lei. 

Sobre a organização de eventos, os artistas e profissionais contratados não terão que reembolsar imediatamente os valores dos cachês, desde que o evento seja remarcado, em até um ano, após 31 de dezembro, que é o fim do estado de calamidade pública.

 

Estratégias opostas

O agenciador de influenciadores e produtor Junior Biavatti, optou pela proposta de transferir os eventos para a modalidade virtual na pandemia. Ele já trabalhava anteriormente de modo virtual, e acredita que as empresas passarão a olhar diferente para as produções remotas. Com a redução de custos em hospedagem, alimentação e transporte, esses eventos poderão acontecer com uma maior frequência, “mas nada substitui o presencial, encontrar aquele seu amigo que joga contigo durante o ano inteiro e vocês se veem naquele evento, tem sua “magia”, diz Biavatti.

Já o “Curitiba Comedy Club,” um bar de comédia, optou pela permanência dos eventos presenciais e está entre os estabelecimentos de entretenimento que acabaram fechando as portas em Curitiba. João Leonardo Madalosso gerenciava o bar desde 2010 e reclama da forma com que o governo lidou com a situação: “O governo baixou um decreto que nos proíbe de funcionar. A gente tem caixa pra ficar uns 3 meses sem abrir, mas já são 6 meses, 6 meses com conta vindo e com aluguel sendo pago”. Além disso, ele comenta que o auxílio prometido aos empresários do setor chegou a “conta-gotas”, e que quando efetivamente foi disponibilizado, no fim de julho, já era tarde demais.

O dono do bar acredita que se o auxílio tivesse vindo como prometido, em abril, talvez o estabelecimento não estaria fechado no momento. Ele diz ainda que só mantiveram as atividades pensando nos funcionários da casa: “Só seguramos tanto tempo assim, esses 6 meses, justamente por causa dos funcionários. Não queríamos prejudicar nenhum deles, mas chegou em um ponto onde a gente não tinha mais como aguentar, e infelizmente tivemos que mandar todo mundo embora”. Mas Madalosso se mostra otimista ao dizer que o setor tem potencial de crescimento quando for permitido novamente a capacidade máxima dos lugares.

O especialista Daniel Poit relata que o impacto no setor de eventos foi “imenso”, e que não foi possível uma recuperação expressiva durante a pandemia. Com isso, ele acredita que o prejuízo não foi amenizado com o auxílio emergencial, já que ele seria insuficiente para arcar com o que o setor deixou de arrecadar. Já sobre a retomada das atividades, Poit opina que ela é viável quando não há aglomerações e risco de contágio. Em relação ao futuro, ele ainda ressalta a grande concentração de turismo a curto prazo, com viagens de carro e visitas aos hotéis próximos que foi observada, sendo um caminho a seguir para o setor.

 

[box] Cinema drive-in volta à moda

Com cinemas, teatros e casas de festa fechados por conta da pandemia de Covid-19, empresários tiveram que se renovar ou aderir a uma moda antiga. O cinema drive-in, sucesso dos anos 80 e 90, foi uma alternativa para oferecer entretenimento nesse período.

Curitiba conta com 3 opções de cinema, o Planeta drive-in, o cinema drive-in da Família Madalosso e o Somos + Curitiba. Toda semana há uma programação diferente e os ingressos são vendidos via internet. Saiba mais sobre o movimento da volta dos cinemas drive-in…[/box]

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