Falta de água em meio à pandemia preocupa moradores do Paraná

por Cecília Pereira Marcacini
Falta de água em meio à pandemia preocupa moradores do Paraná

Com reservatórios em estado crítico, Sanepar é obrigada a fazer rodízio de água em Curitiba e Região metropolitana, complicando a prevenção da Covid-19

Por Emily Redis, Cecília Marcacini e Rodolfo Neves / Foto: Pixabay

O Governo do Estado do Paraná decidiu adotar rodízios de água, devido à falta de chuvas na capital e região metropolitana. A crise hídrica é a mais severa em duas décadas e se tornou histórica. A medida de rodízio de abastecimento de água é tomada para evitar desperdícios e para priorizar o uso dela de forma consciente, principalmente para higiene na prevenção contra a Covid-19.

A necessidade da água na prevenção da doença é debatida no artigo “Água e saneamento na pandemia da Covid-19 – desafio e oportunidade”, feito pela diretora do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura (FGV CERI), Joisa Dutra, junto com a pesquisadora Juliana Smiderle. O estudo mostra que o recomendado seria é cortar água nem saneamento básico, porque há a necessidade de apoiar a prevenção da doença com hábitos de higiene, os quais dependem do acesso à água.

Em lugares com escassez de saneamento básico, a chance de se infectar é muito alta, e não só com Covid-19, mas com outras, como cólera, hepatite, leptospirose e demais que são transmitidas pela falta de água tratada e rede de esgoto adequada. 

A Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) explica que está deixando os hospitais usarem a água gratuitamente, para que não piore a situação no combate ao coronavírus.

Estiagem reduz vazão de rios

O déficit de chuva está afetando todo o estado do Paraná. A redução do volume foi em média de 30%, o que provocou queda na vazão do Rio Miringuava, sendo Curitiba uma das cidades mais afetadas pelo status da crise hídrica. Sendo assim, a Sanepar  declarou rodízio de água no mês de março, que, a princípio, estende-se até novembro de 2020. Para que os reservatórios se encham novamente, é necessário altos índices de chuva nas nascentes dos rios. 

O rodízio é anunciado pelo site do Governo do Paraná. Nele, é informado como será feito e em quais bairros ocorrerão. A Sanepar fala sobre o uso consciente de água, com prioridade para higiene pessoal, em combate ao coronavírus e para alimentação. Também ressalta a importância de os imóveis terem caixa d´água, para abastecer cada família durante o intervalo do fornecimento.

“Nós estamos em abastecimento normal. Apesar do rodízio, estamos conseguindo atender a cidade dessa forma, principalmente os bairros sendo atendidos pelo sistema integrado de abastecimento público. Tudo depende da configuração do sistema de abastecimento e como ele está implantado na cidade”, declara a Sanepar, sobre o abastecimento normal de água nas residências de Curitiba e região metropolitana.

O Governo do Paraná comunica o seguinte: “A equipe técnica da companhia avalia diariamente as condições dos reservatórios para definir se mantém ou não o rodízio em cada dia. A interrupção do fornecimento tem início sempre às 8 horas e a normalização ocorre às 8 horas da manhã do dia seguinte”

Moradores reclamam de corte no abastecimento

Muitos cidadãos de Curitiba e região estão tendo grandes problemas pela falta de água. É o caso de Pricila Fontoura, que mora em São José dos Pinhais, no bairro Jardim Itália. Ela relata que, durante o rodízio, ficou cinco dias seguidos sem água. Os moradores do bairro entraram em contato com a Sanepar, mas, de acordo com a empresa, eles estavam recebendo água normalmente.

“Como nós estávamos preparados para o rodízio, já tínhamos feito algumas mudanças – por exemplo: a água que saia da máquina de lavar roupas usávamos para descarga. Por isso, creio que não dificultou tanto durante os cinco dias. Mas tive que comprar 30 litros de água para poder fazer comida e tomar um banho”, diz Pricila.

Já em bairros da Periferia de Curitiba, a comunicação da Sanepar não foi a esperada. Gabriel Martins mora no Bairro Sítio Cercado, em Curitiba, e relata que “a informação veio depois de uma semana de faltas constantes de água. A primeira semana teve pelo menos dois ou três dias sem água – acabava na tarde de um dia, voltava na manhã de outro; dava mais ou menos 24 horas e acabava de novo. Minha namorada me repassou a informação que viu na TV, dizendo que ia começar o tal rodízio, mesmo já tendo começado aqui no bairro.“

A Sanepar fala sobre a falta de água nos bairros da capital e região metropolitana. “Temos problemas em relação à crise hídrica em quase todo sistema integrado, ele passa por vários bairros, consequentemente está tendo rodízio na maioria dos lugares em que a água é fornecida pelo sistema integrado”. 

Previsão do tempo indica inverno seco

A falta de água provocada pela escassez de chuvas. A princípio, começa a ter sua situação normalizada a partir do mês de setembro. De acordo com a previsão do tempo, o inverno, que teve início em 20 de junho, é caracterizado pelo período com menores índices de precipitação, mais secos. O índice de chuva esperado para o inverno de 2020 será igual ou abaixo do acumulado normalmente nesta época do ano. 

Haverá predominantemente massas de ar seco, que impedem a formação de chuvas de grande volume no estado, o que contribui para a piora do status de crise hídrica no Paraná, a qual o estado vem sofrendo à 12 meses.  É esperado um período ainda maior sem a ocorrência de chuva no próximo trimestre do que a média do mesmo. 

Informações sobre o saneamento básico no Brasil

A última pesquisa divulgada sobre o saneamento básico de cada país foi feita em 2019 e ela mostra que, entre 200 países, o Brasil situa-se na 106ª posição, mostrando que mesmo ocupando o oitavo lugar na economia mundial, a higiene não se encontra como uma de suas prioridades.

Desta maneira, no segundo trimestre de 2019, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez um estudo a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua, do IBGE e índice Gini (mede a diferença de renda), no qual mostra que a desigualdade social cresce desde o segundo trimestre de 2015. A renda dos 50% mais pobres da população caiu 17%, e dos 1% mais ricos aumentou 10%, e dentro disso está incluso o saneamento básico, em que aproximadamente 17% de brasileiros não têm água tratada e 48% não têm coleta de esgoto. Sendo assim, muitos cidadãos no Paraná vem sofrendo com essa desigualdade, acompanhada do rodízio.

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