Crise hídrica causa impactos sociais e econômicos no Paraná

por Georgia Giacomazzi Barbosa Lima
Crise hídrica causa impactos sociais e econômicos no Paraná

Empresas da Grande Curitiba sofrem com a falta de água, enquanto rodízio é implementado para a população

Por: Felipe Worlickzeck Martins e Georgia Giacomazzi Barbosa Lima | Foto: Pixabay

A sociedade e a economia paranaenses são afetadas devido à atual estiagem no estado, que foi decretada como situação de emergência hídrica na primeira quinta-feira (7) de maio, e, consequentemente, do rodízio de água no estado, causados pela baixa umidade do solo e falta de água, efeitos esses muitas vezes agravados pela atual pandemia de coronavírus.

O rodízio de água, implementado na grande Curitiba a partir do dia 18 de maio, ainda pode continuar por mais alguns meses. Ele funciona por meio de uma rotação de fornecimento de água entre diferentes bairros, e, para, conseguir mais informações sobre os dias que os bairros ficarão sem água, basta acessar uma tabela sobre o rodízio no próprio site da Sanepar.

Impacto social

O problema, para o professor de Engenharia Civil da PUCPR Adriano Augusto de Miranda, é a questão global quanto ao uso múltiplo das águas. “Em nossas casas, percebemos o problema quando ao abrirmos a torneira não sair água, mas a escassez de água é muito mais grave que uma simples falta dela na torneira.”

Para Miranda, é perceptível que essa questão agrava toda a população, tanto direta quanto indiretamente. A quantidade de renda, porém, é um fator que agrava o problema: a população mais pobre, por não possuir outras fontes e alternativas de captação de água, sofre mais com a atual crise no estado.

O professor comenta sobre a falta e ineficiência de saneamento básico, fator que também interfere no processo de tratamento de água e, com isso, maiores custos são implementados, fazendo com que o acesso a água em determinadas regiões fique prejudicado.  

A fonoaudióloga Simone Infingardi Krüger que mora em Curitiba no bairro de Santa Felicidade,  fala como está adaptando sua vida por conta da crise: “Nós [família] não estamos lavando a calçada e nem molhando a grama, além de termos aprendido a lavar a louça mais rápido e não passar pano na casa constantemente.

A fonoaudióloga acredita que o rodízio é a solução mais viável no momento, e que o isolamento social também aumentou o consumo de água de sua família, por conta de estarem cozinhando todos os dias.

O aumento no consumo de água não é exclusivo do caso da Simone: dados da Sanepar mostram que o consumo residencial aumentou em 11% em abril, se comparado ao ano anterior.

Fora da capital, a situação pode ser ainda pior. O vereador Marco Antonio Marcondes Silva, que mora no município de Fazenda Rio Grande, conta que seu bairro (Gralha Azul) foi um dos mais afetados pela crise hídrica: a estiagem, somada ao fato de que Gralha Azul não recebe água de Curitiba e que o rio local foi contaminado com combustível, agravam ainda mais o problema de estiagem na região, que afeta aproximadamente metade do município. 

Silva também conta das tentativas da Sanepar para o abastecimento. “A Sanepar instalou caixas d’água e caminhões pipa para a população coletar água. A gente fica chateado porque é humilhante as famílias usarem um recipiente para irem buscá-la.” 

A moradora de Fazenda Rio Grande, Eliane Almeida, também relata suas dificuldades, ao afirmar que teve que comprar água para beber, por conta de ter passado cinco dias sem água em sua residência. Além disso, Eliane também mostra problemas com relação ao rodízio: “Eles avisam os dias que irão faltar água, porém o rodízio nunca volta na data ou horário que informam”.

Impacto Econômico

“Em meio à pior estiagem dos últimos tempos, o abastecimento público pode ficar prejudicado e não há como negar que o impacto da crise hídrica é relevante na vida da população.” É o que diz a engenheira civil Débora Marques de Lara, funcionária da empresa Hume Pré- Moldados. 

A empresa produz reservatórios de água de concreto, vendidos a outras empresas para ajudar no: armazenamento de água; reserva técnica de incêndio e aproveitamento pluvial, entre outros. A grande escassez de água poderia afetá-la porque ela faz grande parte do processo produtivo, vindo a ser uma matéria prima do produto.

Há mais de dez anos, porém,  a empresa vem se preparando para o consumo racional de água e seu armazenamento. Possui reservatórios de água com volume suficiente para atender a fábrica por duas semanas sem água, e o sistema de captação da água da chuva é uma alternativa que utilizam e também um fator importante para a produção, conseguindo produzir e vender seu produto. Neste momento de crise os reservatórios tendem a demorar para serem abastecidos, por conta da falta de disponibilização de água.

Chuvas dos próximos meses não normalizarão a situação

Segundo a meteorologista do CPTEC-INPE Caroline Vidal, a previsão de chuva para os próximos três meses está na normalidade do estado. Isso, porém, não será o suficiente para acabar com a estiagem, que já ocorre desde o ano passado. 

Ela também aponta que as atuais chuvas no estado não serão suficientes para acabar com a crise hídrica, mesmo que estejam acima da média esperada (aproximadamente 50 a 100mm superior), visto que elas se caracterizam por um período muito curto de chuvas.

Em uma videoconferência ao vivo, a  professora de meteorologia básica da UFPR, Alice Grimm, explica os vários fatores que influenciaram a crise hídrica,  formando, em suas palavras, uma “tempestade quase perfeita”. Tanto o fenômeno natural, La Niña, que se caracteriza por um esfriamento das águas superficiais do pacífico, quanto o El Niño, que é oposto do primeiro, contribuem para a estiagem. 

Além disso, a física também relaciona a estiagem com o atual aumento do desmatamento da Amazônia, visto que essa prática causa uma redução na umidade e consequentemente, de chuvas na Região Sul.   

Para economizar água nessa crise hídrica, siga as seguintes recomendações de uso consciente da Sanepar:

  • Tente reduzir o banho para pelo menos dez minutos;
  • Uma torneira gotejando gasta aproximadamente 60 litros de água por dia; portanto, tente consertar os vazamentos d’água o mais cedo  possível;
  • Tente sempre usar a capacidade máxima de roupas de uma máquina de lavar;
  • Nunca jogue nenhum objeto descartável pela privada, já que será usado mais água para mandar ele embora;
  • Não fechando a torneira para escovar os dentes, uma pessoa pode gastar 10 litros de água, procure utilizar apenas um copo d’água para economizar.

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