Aulas remotas evidenciam dificuldades de alunos sem conexão

por Giulia Militello Dias dos Santos
Aulas remotas evidenciam dificuldades de alunos sem conexão

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Com a pandemia, participação dos estudantes diminui devido à nova forma de ensino online

Por Giulia Militello e Juliane Capparelli | Foto: Pixabay

A desigualdade social não permite que alunos sem internet tenham as mesmas condições para estudar que estudantes com internet possuem. A falta de recursos prejudica o desenvolvimento escolar e a preparação para vestibulares. Com a pandemia do novo coronavírus, aulas remotas foram  adotadas como solução pelas escolas e universidades, entretanto, fica evidente a desigualdade e dificuldade enfrentada por alunos que não possuem celular, computador e espaço adequado ao estudo.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,9 milhões de pessoas não tinham acesso à internet em 2018. O Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é o 7° país mais desigual do mundo. A população brasileira passa dos 210 milhões de habitantes e 13,5 milhões dessas pessoas sobrevivem com até R$ 145  mensais, segundo estimativas feitas pelo IBGE.

Kawane da Silva Serra, estudante de 19 anos, relata que tem estudado em casa, mas tem problemas com a internet e precisa compartilhar o computador com seus pais. Kawane faz parte do Cursinho Solidário, que tem feito lives e gravado aulas para poder ajudar os alunos. “Sem o cursinho seria bem mais difícil entrar em uma universidade.” Ela acrescenta que se sente prejudicada e, sobre a situação dos educandos, diz que é necessário melhorar a estrutura para aqueles que ainda estão estudando e dependem da internet, “já que esse ano tudo tem sido online.” 

Leonardo Chicora Neto, de 20 anos, também estudante do Cursinho Solidário, aponta que o pré- vestibular consegue prover oportunidades de estudo para as pessoas que não têm condições financeiras. Gabriel de Andrade Burlan, de 18 anos, diz que está estudando com as apostilas que o Cursinho oferece, “está sendo meu norte nos estudos.”

O coordenador estadual do pré-vestibular +Nós, Pablo Augusto Ribeiro, pontua que as tecnologias cumprem um papel imprescindível nas relações sociais, como a internet. Ela é democratizante e possibilita o acesso a informações, pesquisas e ao conhecimento. Ele complementa que, por mais que a educação seja universalizada no Brasil e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB ) estabeleça isso, o acesso à internet e ao meios eletrônicos não é universal. Como exemplo, a ausência dessas ferramentas no sistema educacional público. “O ensino virtual obrigatório dentro dessa realidade desigual, neste período de pandemia, só reforça as desigualdades educacionais no Brasil.” 

O projeto +Nós tem como objetivo tornar os alunos em situação de vulnerabilidade social independentes e capazes de compreender de forma crítica a sua realidade. Ribeiro relata que os alunos não estão se adaptando à nova forma de estudo. “O número de participação de alunos caiu absurdamente.” Estima-se que 75% deles não estão frequentando as aulas.

O doutor em Sociologia e Antropologia Cauê Krüger explica que as causas pela desigualdade no Brasil são históricas, tendo início com a colonização. Com a exploração dos europeus e a escravização indígena e africana, criou-se uma “estrutura de subalternidade, uma estrutura de viés racial em que essa desigualdade acaba obedecendo ou articulando também, essa variação racial que é a explicação de muitas dessas desigualdades”. Krüger argumenta que a desestruturação do sistema escravista ainda gera marcas do ponto de vista da desigualdade e que não houve “um projeto de constituição da cidadania brasileira”. 

Sobre a educação, ele diz: “Ela é um dos principais reprodutores dessa desigualdade”, em que, parte da elite tem uma educação humanista e a maior parte da população, uma educação técnica voltada ao mercado. Segundo ele, o adiamento dos vestibulares e do ENEM mostra como a pandemia também prejudicou os menos favorecidos, que não dispõem de condições de estudo e infraestrutura tecnológica em casa. 

Para o professor e doutor em Educação Marcos José Zablonsky, o principal problema da desigualdade está baseado nas oportunidades; 60%  do jovens brasileiros não têm computador ou banda larga e, se tem, é precária. Somente 15% da população tem ensino superior. Com o problema da má distribuição de renda, a riqueza fica concentrada na mão de uma pequena parcela da população. Segundo Zablonsky, para melhorar a desigualdade é necessário “fortalecer muito a educação básica, o ensino fundamental e o ensino médio.”

O professor complementa que no Brasil não há política educacional nem  industrial, implementada com qualidade. Durante a pandemia ficou evidente a dificuldade de superar a desigualdade. De acordo com ele, uma maneira de minimizar os prejuízos para estudantes sem acesso à internet seria cedê-la, através das operadoras ou pelo subsídio do Estado, às pessoas do Bolsa Família, que estudam em escola públicas e que estão se preparando para os vestibulares. E sobre o ENEM, se não fosse adiado, não cumpriria sua principal missão, a igualdade.

O especialista em inclusão digital Cláudio Marcellini relata que há um abismo entre países emergentes, como o Brasil, e países desenvolvidos. A pandemia evidenciou a vulnerabilidade dos profissionais e empresas. Ele diz que “a transformação digital, deixou de ser um complemento, para ser um protagonista que irá permitir a sobrevivência daqueles que reconhecem as possibilidades e oportunidades geradas na Era da Informação”. Marcellini afirma que a internet é fundamental e um canal de geração de valor, informação e estudo. Sobre a inclusão de alunos sem internet, ele explica que uma solução seria que programas em parceria com operadoras, ou o próprio governo, fornecessem um “vale acesso” para se conectar à internet.                  

 

Adiamento do ENEM

Devido à pandemia, as aulas foram suspensas e o ensino passou a ser remoto. As datas para realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) eram nos dias 1 e 8 de novembro, porém com a repercussão negativa sobre os alunos que não teriam meios para estudar, a prova será adiada de 30 a 60 dias, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Ministério da Educação (MEC).  Por meio de uma enquete que será feita entre 20 e 30 de junho, os alunos votarão a nova data do ENEM. As opções para votar são dezembro deste ano, janeiro e maio de 2021.

A discussão chegou ao Senado e, com 75 votos a favor e um contra, o Projeto de Lei 1.277/2020, que adia as provas que dão acesso ao ensino superior, incluindo o ENEM, foi aprovado. A votação seguiria para a Câmara, mas o Ministério da Educação anunciou o adiamento. 
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