Epidemia de Covid-19 dificulta combate à dengue no Paraná

Estado tem 180.340 casos de dengue confirmados, com 139 óbitos e 64,315 casos em investigação
Por Julia Mello Marcelino e Maria Eduarda Souza
O Paraná lidera a quantidade de casos de dengue no Brasil e, diante da epidemia de Covid-19, tornou-se mais difícil combater a doença provocada pelo novo coronavírus. De acordo com o último boletim epidemiológico de dengue lançado pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), em maio, o estado tem 180.340 casos confirmados, 139 óbitos e 64,315 em investigação.
Estes dados tornam-se cada vez mais preocupantes para a Sesa, devido à incidência de casos do novo coronavírus, necessitando que os cuidados sejam redobrados e que as campanhas de prevenção busquem focar na diminuição do contágio de ambas as doenças.
Situação da dengue no Paraná
No Paraná, os municípios com maior suspeita de casos de dengue são Londrina (40.629), Foz do Iguaçu (24.435) e Maringá
(14.598). E os municípios com maior número de casos com autoctonia, contaminação local, definida são: Foz do Iguaçu (13.906), Londrina (11.644) e Maringá (7.686).
Figura: Classificação dos municípios segundo incidência de dengue por 100.000 habitantes – Paraná – Semana Epidemiológica 31/2019 a 19/2020* | Fonte: Coordenadoria de Vigilância Ambiental /SESA.
Vários fatores contribuem para incidência de dengue em determinada região, entre eles as condições climáticas relacionadas ao aumento de temperatura e pluviosidade, que criam circunstâncias propícias para o aumento no número de criadores disponíveis.
Em virtude disto, o SACDENGUE (Sistema de Alerta Climático de Dengue), iniciativa desenvolvida pelo Laboclima (Laboratório de Climatologia) da UFPR (Universidade Federal do Paraná), em parceria com o Simepar (Instituto Tecnológico do Paraná) e a Sesa (Secretaria de Saúde do Estado), realiza o monitoramento climático no Paraná a fim de identificar locais com condições meteorológicas favoráveis para a reprodução do Aedes aegypti, que resultam no aumento de focos do mosquito.
Figura: Risco climático para desenvolvimento de criadouros por Estações Meteorológicas. Paraná, 2019 | Fonte: Laboclima/UFPR
Epidemia de coronavírus no estado
Com o crescimento do COVID-19, o Estado do Paraná separou 486 leitos de UTI e 1,137 de enfermarias para o tratamento exclusivo de pacientes com vírus no SUS. Para a rede particular, fica a critério de cada hospital. De acordo com o último informe epidemiológico do estado, de 14 de maio, a quantidade de leitos disponibilizados ainda atende à necessidade da população, pois o total de leitos ocupados é 400.
Para a médica Flavia Cunha Gomide Capraro, infectologista nos hospitais Nossa Senhora das Graças e Sugisawa, de Curitiba, as demais doenças que costumavam ser vistas com mais atenção, por conta do cenário atual, acabam perdendo relevância. Então, o foco das equipes médicas se volta ao coronavírus, para tentar conter a curva de contágio. Assim, outras doenças, como a dengue, que antes da crise ocupava um espaço muito grande, são negligenciadas.
“No hospital, os funcionários tinham receio de atender pacientes com bactérias muito resistentes. Agora, parece que isto não é mais um problema; eles têm pânico em ver um paciente com suspeita de coronavírus”.
A infectologista alerta ainda para a necessidade de ver as doenças dentro de suas proporções, sendo que, por estar acostumada com a dengue, boa parte da população acaba por minimizar seus riscos e, consequentemente, não dá tanta atenção às medidas preventivas necessárias.
Isso cria também uma confusão ao se tratar dos sintomas da dengue e do Covid-19, o que é uma realidade para Tiago de Souza Pereira, 36 anos, serralheiro, e diagnosticado recentemente com dengue hemorrágica. Os sintomas apresentados por ele o levaram a pensar que estaria com Covid-19.
“Os sintomas confundem. Como tenho filhos e um deles é especial, tive medo que fosse coronavírus e eles pegassem”.
Tiago relata ainda que, apesar de ter se sentido aliviado por não estar com Covid-19, a persistência dos sintomas da dengue o preocupava.
“Graças a Deus, descobri que não era coronavírus. Mas fiquei preocupado em sentir os sintomas da dengue por mais tempo. Foram dores que não me deixavam sair da cama, por isso o medo de durar”.
Desta forma, a infectologista explica que, embora ambas as doenças possam evoluir para quadros mais graves, a manifestação dos sintomas ocorrem de forma mais abrupta no caso da dengue.
“A dengue é uma doença mais aguda: ela começa com sintomas conjuntos, como dor no corpo, mal estar, febre, dor nas juntas e dor de cabeça. Já em relação ao coronavírus, os quadros geralmente são mais arrastados: a pessoa inicia com um resfriado e, pelo quinto dia, começa a apresentar tosse e febre”.
POSICIONAMENTOD DA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE
O Secretário, Beto Preto, alerta para os cuidados necessários e não subestima a doença, e pede a participação de toda a população para eliminação de criadouros do mosquitos em suas casas, pois são os principais pontos de transmissão. Após o boletim do dia 12 de maio, a Secretaria confirmou que ocorrem 10 óbitos por semana no Estado pela dengue: são 303,548 notificações para a doença em todas as regiões do Paraná. Porém, apesar do número expressivo de casos, a curva epidemiológica começa a mostrar redução. Aa partir da análise do último mês, essa tendência é aparente em 167 municípios. A coordenadora da Vigilância Ambiental do SESA, Ivana Belmonte, conta que eles atuam em parceria com as secretarias municipais na realização de mutirões técnicos para a eliminação dos criadouros nos meses que a pandemia do novo coronavírus acontece.
A diretora da Atenção e Vigilância em Saúde da SESA, Maria Goretti, pede, nesse momento, com as ações restringidas devido à atual situação de pandemia, a compreensão e ajuda de cada paranaense para tomar os devidos cuidados em suas casas, pois, mesmo com a quantidade de casos de dengue caindo, os números ainda são muito altos.
POSICIONAMENTO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE CURITIBA
A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba alega que, na capital não há, de fato, uma epidemia de dengue e que as ações para diminuição de criadouros do mosquito Aedes aegypti permanecem diante do cenário de pandemia do novo coronavírus, com moradores de regiões afetadas recebendo a visitas dos agentes de endemias. Porém, não foi especificado se medidas preventivas para coronavírus, como o uso de equipamentos de proteção individual, estão sendo acatadas, a fim de diminuir o risco de contaminação do agente e dos moradores que recebem a visita deste profissional.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO PARA DENGUE
Fonte: Ministério da Saúde