Indústria cinematográfica se reinventa por consequência da Covid-19

por Giovana Juliatto Bordini
Indústria cinematográfica se reinventa por consequência da Covid-19

Devido à pandemia, setores da indústria cinematográfica transformam os trabalhos presenciais em remotos

Por Emily Redis e Giovana Juliatto Bordini | Foto: Unsplash 

Por conta de um decreto do Governo do Paraná, promulgado no dia 16 de março de 2020, que recomendou a suspensão de eventos públicos ou particulares, como reuniões com mais de 50 pessoas, para evitar a propagação da Covid-19, todos os cinemas paranaenses tiveram que suspender suas atividades, sem nenhuma previsão de retorno. 

Em decorrência do isolamento social, os cinemas e a indústria cinematográfica, assim como a maioria dos empregos, tiveram que se adaptar a essa mudança, no qual muitas empresas transformaram os trabalhos presenciais em remotos, ou até diminuíram o número de funcionários e as cargas horárias.

Com isso, foram paralisadas algumas das etapas de produção. Dentro da pré-produção, foram afetadas a seleção de elenco e a busca por capital para viabilização do projeto. Na fase de produção, foi interrompida a etapa de filmagem. E na pós-produção, depende de em que parte o filme parou: se só faltou a finalização, muitas coisas, como, edição, legenda, masterização digital, edição de som e etc podem ser feitas pelas equipes técnicas em home office.

No âmbito nacional, o cinema não teve uma paralisação total, mesmo estando em casa, Marina Herrador, bacharel em Comunicação Visual: Rádio-TV pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), que trabalha na indústria cinematográfica desde 2008, afirma que a demanda de trabalho diminuiu, mas que ainda existe e que “estão avançando até onde podem”. Serviços como roteirização de dublagem, legendas e descrição para interpretação em libras continuam sendo produzidos. Já as atividades que precisam ser feitas em  estúdios de gravação foram suspensas desde o começo da pandemia, por movimentarem um grande número de pessoas em espaços pequenos.

Situações como a falta de legendas ou dublagem em determinados idiomas em filmes recém lançados estão sendo recorrentes nas plataformas de streaming. Para informar seus usuários, a Netflix está colocando avisos nas novas produções de seu catálogo, já  que, por conta dessa paralisação no setor cinematográfico, estão sem esses complementos.

Outro problema ainda mais evidenciado pela pandemia é a falta de incentivo aos produtores de conteúdos de audiovisual e artistas independentes, já que muitos estão sem trabalhar, e consequentemente sem salários, como conta Solange Straube Stecz, jornalista, professora e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Artes da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/ Campus de Curitiba II/FAP. O cenário que a pandemia do coronavírus proporcionou trouxe muitas consequências para a área cultural e, em decorrência disso, a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) liberou parte de seu fundo monetário para auxiliar 300 projetos de audiovisual de artistas curitibanos para receberem R$ 1.500.

A FCC é um órgão municipal responsável por dar o devido suporte às manifestações culturais na capital paranaense.

Volta à normalidade 

Para a cinéfila Mariana Munaretto, ao mesmo tempo em que este período traz a possibilidade das pessoas explorarem filmes já existentes ,“é angustiante não poder ir ao cinema”.

A cineasta e roteirista Maria Teresa Bordini, formada pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), com sede em São Paulo, comenta que o cinema sempre teve, com as inovações nas formas de assistir, um certo receio por seu fim, mas isso nunca aconteceu, já que o modo de assistir a filmes sempre se reconfigura e acaba agregando novas experiências aos espectadores. Acontecimento que pode ser visto nos fenômenos dos cinemas 3D e 4D, e em um panorama regional, mais precisamente no Paraná, o próprio Cine Passeio se enquadra nesse caso, trazendo ao público consumidor o sentimento saudosista dos cinemas de rua.

Essas e outras práticas serão essenciais para atrair o público, que, até o devido regresso, terá passado por um bom tempo sem acessá-la em seu formato original. Para a cineasta, os exibidores de longas-metragens poderão aproveitar do quanto a ida ao cinema fez falta durante esse período e implementar novas ideias.

Mesmo não tendo nenhuma data certa para a retomada da atividade dos cinemas, e a popularidade crescente dos streamings, isso traz ao público o questionamento de que talvez ocorra mudanças na maneira de consumo dos filmes. 

Sobre uma possível retomada de atividade da indústria, Marina Herrador  acredita que tudo voltará de forma gradativa em todo o setor do entretenimento, até que as atividades se normalizem e o público se sinta seguro e a vontade para regressar a estas atividades.

A China, como todos os outros países, tem a missão de se reinventar na área do cinema  para atrair o público que foi perdido durante o período de quarentena, sendo assim eles tem a previsão de relançar filmes que fizeram sucesso nas grandes telas, possibilitando que as salas de cinema fiquem com todo o valor arrecadado. Segundo Solange Stecz, essa estratégia utilizada na China pode também se tornar uma tendência no Brasil. 

 

O aumento da utilização dos streamings

Foto: Unsplash

Segundo estudos feitos pela Nielsen, empresa germânica-americana de estatística, o aumento de streaming é um comportamento muito esperado durante o isolamento social, com alta de aproximadamente 60%. E foi isso que ocorreu: a plataforma Netflix registrou um crescimento de 16 milhões de assinantes no começo de 2020, e uma das principais causas para esse aumento é a quarentena devido à pandemia do coronavírus.

A professora Solange Stecz também comentou sobre a Netflix ser uma grande contratante de produtoras nacionais em que prezam pelo conteúdo brasileiro, que nesse período anunciou um fundo emergencial de apoio aos produtores audiovisuais. “Se você considerar que é um órgão particular e de valor internacional e que eles fizeram um fundo de R$ 5 milhões voltado para os trabalhadores do audiovisual, significa que a indústria está sendo muito afetada’’ afirma Solange. A plataforma se uniu com o Instituto de Conteúdos Audiovisuais Brasileiros, com a intenção de ajudar até 5 mil trabalhadores e freelancers da área afetados pela pandemia da Covid-19, com o valor de um salário mínimo.

Já no quesito de produções nacionais voltadas para as plataformas digitais, Marina Herrador diz que não vê um diretor nacional fazendo filmes voltados somente a esse tipo de exibição, já que esses diretores, em sua maioria, fazem filmes para as grandes telas, algo que vem sendo cada vez mais comum com a digitalização das salas, que traz esse conteúdo com mais facilidade ao público.

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