Musical Happy Days retorna ao palco após sucesso em 2019

O espetáculo estará em cartaz de 12 a 15 de março provocando no público debate sobre questões sociais
Por Beatriz Bleyer e Lorena Rohrich
O musical “Happy Days – Ou o futuro vem antes” retorna ao palco do Guairinha, em Curitiba, trazendo uma releitura politizada e contemporânea de um roteiro da década de 1980 escrito pelo autor gaúcho Guto Greco. A peça dirigida e produzida por Fabiano Nunes é resultado de um trabalho de formação de 18 jovens selecionados para participar do projeto. O espetáculo, que provoca debates de temas como racismo e machismo, estará em cartaz de 12 a 15 de março, após levar 1,7 mil pessoas ao mesmo teatro em dezembro de 2019.
As atrizes e atores de 15 a 18 anos que se apresentam no musical foram escolhidos em uma seleção realizada em junho de 2019. Para o diretor, trabalhar com adolescentes é, ao mesmo tempo, um desafio e um prêmio. “O trabalho sério do ator é ser criança, então os adolescentes estão no meio do caminho entre o adulto e a criança”, afirma. “Saí ganhando. Eles nos contaminam de futuro.”
Para Nunes, o espetáculo é uma oportunidade de revisitar momentos que marcaram de maneira negativa a história nas décadas de 1950 e 1960. “Temas tão antigos que infelizmente aparecem no cenário atual”, diz o produtor. “Alguns padrões se repetem e se a gente não olhar pra eles, eles vão se repetir de novo.” O diretor afirma que Happy Days deu a ele a oportunidade de olhar para coisas leves e descobrir grandes profundidades.
A montagem tem sido uma experiência reveladora para os jovens que trabalham como atores e que se identificam com as temáticas do roteiro. A atriz Monica Gonçalves diz acreditar que o musical pode levar o público a uma reflexão sobre dilemas importantes da sociedade. “O Happy Days traz essa importância histórica em relação a várias pautas, em relação a violência à mulher, ao racismo, coisas que eram muito presentes e até hoje estão aí.” Para o ator Thiago Oliveira, é importante dar ênfase ao fato de que o espetáculo é composto apenas por jovens atores.“Eu acho que é muito legal ver como jovens conseguem trazer essa forma de expressão”, explicou.
O musical tem como pano de fundo a história de um triângulo amoroso. O enredo é permeado por representações de movimentos sociais que impactaram as décadas 50 e 60, num roteiro que entrelaça uma narrativa romântica e fatos históricos violentos. O espetáculo combina linguagens contemporâneas e canções que marcaram época. Todas as 30 músicas já estavam presentes no roteiro de Guto Greco, estão incluídas na coleção “Proud Mary”, da banda Creedence Clearwater Revival, “Blowin’ In The Wind”, do Bob Dylan e “Tutti Frutti”, do Little Richard, e que fez sucesso com o Elvis Presley. “A gente pegou muitas músicas super clássicas da época e fizemos arranjos especiais, versões. A gente olha pras músicas e recontextualiza elas, coloca em algum lugar de delicadeza”, explicou Nunes.
Entre as várias provocações feitas na montagem do espetáculo está o fato dos jovens negros retomarem a propriedade de músicas que foram feitas por negros, mas que só ficaram conhecidas na voz de brancos. É o caso de “Hound Dog”, escrito pela Big Mama Thornton que fez sucesso quando cantada por Elvis Presley. No musical, é na voz de atores negros que acontece esse resgate.
Sobre processo de adaptação do roteiro, Fabiano Nunes, que trabalhou em conjunto com a dramaturga Carol Pitzer, conta que precisou tirar algumas piadas que hoje são consideradas machistas e que seriam inapropriadas para o roteiro.
O investimento da peça veio de uma figura que é mantida no anonimato, trata-se de uma mãe que queria investir no aprendizado da filha. A iniciativa acabou se estendendo a outros participantes. “Eu transformei um projeto de aprendizado de uma pessoa para um projeto para 18 pessoas e, na verdade, se transformou em um projeto para 30 pessoas que estão envolvidas nisso.”
Além da composição musical, dirigida por Du Gomide, e das coreografias, montadas por Pedro Quaresma, a presença da linguagem contemporânea, em meio ao contexto clássico, se faz presente a partir do cenário e dos figurinos futuristas, criações da experiente Thanara Schonardie, que já deu vida aos sucessos “Meu pedacinho de Chão” e “Velho Chico”. Além disso, o processo de montagem da peça está sendo registrado pelo cineasta Cisco Vasques, que produzirá um documentário com as imagens.
O processo até aqui
Até chegar aos resultados finais, nas apresentações em dezembro de 2019, os artistas tiveram seis meses de trabalho duro. Agora com a extensão do projeto os atores retomaram os ensaios (verifique a reportagem sobre os ensaios aqui). O plano pedagógico, traçado pelo próprio diretor, Fabiano Nunes, incluiu aulas de dança, de canto, de música e de teatro. “Aulas de brincar seriamente”, definiu. Nunes considerou importante que os jovens também tivessem aulas de história, ministradas pelo professor e psicanalista Felipe Pimentel, para que eles entendessem “quais eram as especificidades do mundo na década de 50 e 60.”
O coreógrafo e assistente de direção, Pedro Quaresma, contou que eles introduziram um método diferente nos treinos de dança e movimento. A utilização do RPG, Role-Playing Game (jogo de narrativa colaborativa) facilitou o entendimento dos jovens sobre “as texturas do que é o fantástico”. “Nós criamos fichas de personagens e cada um era de uma classe. Funcionou e foi mais fácil a criação de movimentos”, afirmou. Igor de Melo afirma ter mudado como pessoa desde o início da preparação para a peça. Além da mudança no comportamento e progresso profissional, Melo disse ter adotado uma nova postura corporal.“Com o trabalho do coreógrafo acabamos tendo uma consciência do corpo. Isso muda tudo.”
A diretora de arte contou que o figurino representa a identidade de cada personagem e que ele revela características não apresentadas no texto. Thanara Schonardie explicou que apesar do objetivo dos elementos de cena ser a provocação de sensações e emoções no público, o processo de criação deles é racional e matemático, já que é cuidadosamente pensado. “É um sistema meio lógico em cima das emoções”, expressou.
Depois das apresentações em Curitiba, o grupo do musical pretende partir novamente em turnê nacional.
Para promover o musical, o grupo de atores realizou uma série de ações pela cidade, para saber mais clique aqui.
Serviço:
Quando: 12 a 15 de março de 2020
Horário: de quinta a sábado, às 20h00 e no domingo, às 19h00
Local: Auditório Salvador de Ferrante – Guairinha
Tempo de duração do espetáculo: Uma hora e quarenta minutos (1h45)
Classificação etária: 12 anos
Preços dos ingressos: R$ 40,00 (QUARENTA REAIS) – Inteira
Venda de Ingressos: Bilheteria do Teatro e Ticket Fácil