Brincadeira de criança: bonecas ultrarrealistas fazem sucesso entre adultos

Pessoas adotam Bebês Reborn em busca de uma experiência de maternidade
Por Maria Cecília Zarpelon
Ao contrário do que muitos pensam, brincar de boneca não é coisa só de criança. Segundo o artigo “Estresse de homens e mulheres que buscam tratamento para infertilidade” de Maria Makuch, Maria Osis e Silvia Gradvohl publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia em 2014, a brincadeira desenvolve uma conexão com a maternidade, o que faz diversos adultos no Brasil procurarem pelos bebês reborn, bonecas ultrarrealistas que apresentam a aparência real de uma criança.
De acordo com o estudo “Faz-se figura humanizada: reflexões acerca de bebês quase-reais” de Mariana Cruz de Almeida Lima publicado em julho de 2011, essas bonecas “quase-humanas” são produzidas detalhadamente, com peso, textura da pele, olhos e fios de cabelo iguais aos de uma criança. Algumas possuem simulação de voz, de respiração e de batimentos cardíacos. Os reborn são produzidos por meio do uso de um conjunto de técnicas de pintura e montagem que são aprendidas e difundidas em sites e cursos.
Segundo o estudo, as Cegonhas, como são conhecidas as artistas reborn, realizam uma produção detalhada e criteriosa das bonecas. O primeiro passo é a escolha do molde, também chamado de Kit, que contém as partes do corpo do bebê. Esses Kits são feitos de silicone e vêm sem nenhuma pintura, para que as artesãs possam “renascer” as bonecas.
A Cegonha Sandra Maria Rudnick é uma artista plástica que sempre gostou de bonecas e há 10 anos abriu uma loja Reborn em Curitiba. “Quando comprei minha primeira reborn foi amor à primeira vista, me apaixonei”. Sandra conta que, além de crianças, a maior parte de seus clientes são pais que desejam eternizar o rosto dos filhos nas bonecas. “Já atendi muitas mães que perderam seus bebês e quiseram cuidar da boneca para sentir como é a maternidade. Compram berço, trocam fralda, dão banho, levam para passear”, lembra.
Rosane Vieira é uma empresária do ramo de cosméticos e há cinco anos adotou Carolina e Téo, seus dois bebês reborn. Segundo Rosane, a vontade de apadrinhar as bonecas veio porque ela não teve essa experiência na infância e sente falta de ter um bebê em casa, visto que seus filhos já são adultos. “Posso curtir um bebê que não cresce, não chora e que as roupas nunca ficam pequenas. É encantador”, afirma. A empresária possui todo tipo de acessórios para seus bebês, desde roupas, fraldas, chupetas, berços e até bebês conforto.
Para a psicóloga Thaís Nunes, a relação de maternidade entre o adulto e a boneca não é saudável uma vez que a atividade pode ocasionar no desenvolvimento de transtornos psicológicos. “No início, a pessoa tem uma relação com a boneca sabendo que é uma brincadeira, mas com o passar do tempo, essa relação pode ficar cada vez mais confusa, a ponto de ela não saber mais o que é real e o que é fantasia”. A profissional acredita que a maior parte das pessoas compra essas bonecas para substituir ou satisfazer um desejo de maternidade. “Você interage com um objeto que não tem reações. Todas as trocas e respostas que você teria com um ser humano, não existem com a boneca. Isso não corresponde à realidade, não é isso que é uma maternidade”, conclui.
A Cegonha Joelma Luz, não vê problema em um adulto brincar de ser mãe ou pai. “Isso não é nada fora do comum. O sentimento de ter um bebê eterno é o mesmo de ter um objeto muito querido”, reconhece. Para ela, o que importa é que a sensação de segurar uma criança no colo estará presente para sempre.