Voto para presidente não é anulado caso votos para demais cargos sejam em branco

Informação espalhada pelo WhatsApp afirma que o voto só poderá ser computado como válido caso seja “completo”
Por Beatriz Tedesco, Flavia Mota, Isabela Lemos, Luana Fogaça e Marcelo Makhoul
Notícias falsas vêm sendo o assunto de grandes debates, principalmente no Brasil, país onde se discute sua grande influência até mesmo nas eleições. Durante o período eleitoral, diversas fake news em relação ao voto foram amplamente divulgadas. Uma delas, viralizada através do aplicativo WhatsApp, é sobre o voto em branco para outros cargos (governador, senador, deputado federal e deputado estadual) anular o voto para presidente. A mensagem da notícia falsa dá a entender que o voto só é computado como válido se for “completo”.
Confira o texto da notícia falsa:
“Só um aviso aqui, galera. Ontem passei pelo treinamento para os trabalhos para a justiça eleitoral no próximo dia 7. Lembrem-se de votar em todos os candidatos. Se votar só em Presidente, e votar em branco nos outros, o voto é tido como voto parcial. Logo, seu voto é anulado. Só computa voto válido quando o voto é completo. Questionei isso lá, dizendo que a sociedade não tinha ciência de que voto parcial não é computado como voto válido. Questionei indignado, mas a instrutora foi bem clara em dizer que não era computado. Logo, vamos ficar esperto. Se tiver mais alguém aqui que vá trabalhar e eles tocaram nesse assunto, se manifeste”.
Esclarecimento da Justiça Eleitoral
Em nota oficial, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) afirmou que a informação sobre o voto para presidente ser anulado se os outros votos forem em branco era falsa. O TRE-PR argumentou que a mensagem não tinha fundamento algum, pois cada voto é independente dos outros.
“O voto em branco, assim como o voto nulo, não entra na conta dos votos válidos, mas isso não significa que o voto em branco ou nulo para algum cargo anule o voto atribuído a candidato ou partido que concorrem a outro cargo”, esclarece em nota oficial.
Cobertura da mídia
O jornalista Alexandre Aragão trouxe à tona a verdade sobre essa notícia falsa através do site Aos Fatos. Ele recebeu a fake news pelo WhatsApp próprio do Aos Fatos, que é disponível para os leitores enviarem links de notícias falsas para a equipe fazer a checagem da sua veracidade. “Eu não precisei entrevistar nenhum especialista para fazer a reportagem para o Aos Fatos por ser algo que já pode ser desmentido através do funcionamento eleitoral. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também desbancou a mentira”. Aragão afirma que, para ele, não há diferença entre esclarecer uma informação enganosa e fazer um reportagem, algo que as pessoas tendem a tratar como duas coisas diferentes.
Sobre o posicionamento do TSE em relação às fake news, Aragão expõe que, por mais que o tribunal tenha se esforçado para combater notícias falsas, o resultado não foi satisfatório. O jornalista critica a demora que o tribunal levou para lançar notas de esclarecimento sobre notícias de grande repercussão. “Durante as eleições, havia algumas fake news que só poderiam ser desmentidas pelo TSE. Um exemplo são as urnas eletrônicas, que são fiscalizadas por eles mesmos e os jornalistas não conseguem desmentir a notícia falsa sem informação oficial do próprio TSE”.
O site Aos Fatos tem expressão tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Composto por uma equipe de jornalistas do país inteiro, ele é destinado à checagem de notícias falsas e também de incongruências em discursos de políticos brasileiros. Os leitores podem entrar em contato pelo WhatsApp para verificar ou denunciar uma notícia falsa. Além disso, o site conta com a bot Fátima, que alerta usuários do Twitter que estão compartilhando notícias falsas.
Beatriz Tedesco
Interesses por trás das notícias falsas
Segundo a psicóloga Gabriela Duailibe Rusciolelli, a criação de uma notícia falsa normalmente está embasada no interesse de alguém ou de algo, e esse interesse é o que muitas vezes corresponde à crença de várias pessoas. “O viés de confirmação é a tendência que temos de reforçar uma crença nossa e que nos impede de chegar a conclusões reais”. A psicóloga explica que esse viés acaba por ser tendencioso e, assim, bloqueia o ser humano de enxergar outros pontos de vista.
Para ela, é importante que a sociedade deixe cada vez mais esse viés de confirmação de lado, para que possa saber escutar e tentar entender o outro lado, diminuindo, assim, a intolerância. “É muito difícil quando parte da minha crença eu ir contra alguma coisa, mas é necessário que se tenha esse olhar do outro porque, se vivemos em sociedade, qual o princípio de uma sociedade em geral? São regras que permeiam diversas pessoas, então, cabe a nós tentar entender para poder viver em sociedade”, afirma a psicóloga.
Vítimas da fake news
A estudante de economia Flávia Mazorca foi uma das milhares de pessoas que acreditaram nesta fake news. Ela conta que recebeu a informação pela sua mãe e não pensou em conferir se era verdadeira ou não por não achar que aquilo a prejudicaria. “Não me preocupei em checar, já que não haveria prejuízo”. Flávia afirma que desconfia de todos os veículos de informação, até mesmo dos maiores, por acreditar que eles priorizam seus interesses em vez da verdade, e, por conta disso, não possui o costume de checar a veracidade das notícias que chegam até ela.
Vanessa de Jesus Cabral e Anderson Lucas Mattos afirmaram que a desinformação chegou pelo aplicativo Whatsapp, e que desconfiaram da notícia por não confiarem inteiramente nas fontes. Os dois afirmaram checar todas as notícias que chegam a eles por rede social, em pesquisas na internet, Google e sites confiáveis, constatando a falsidade da postagem e tendo um sentimento de indignação pela repercussão da fake news.