Fake News: agressões e ataques na boate LGBT Verdant

Casos de agressões em frente a boate Verdant após resultados da eleição viralizam nas redes sociais e preocupam curitibanos e frequentadores do local
Por Camille Casarini, Fernanda Xavier, Helena Sbrissia, Leonardo Cordasso e Mariane Pereira
Um princípio de possíveis tumultos no centro histórico de Curitiba, mais conhecido como Largo da Ordem, teria ocorrido nos arredores e dentro da boate Verdant, que possui a maior parte de público LGBT. O caso teria ocorrido perto das 21 horas do domingo (28/11), dia em que ocorreu o segundo turno das eleições. De acordo com publicações postadas nas redes sociais por usuários que estariam lá ou que teriam familiares no local, vários ataques violentos e agressões aos frequentadores da boate teriam ocorrido.
Em nota de esclarecimento postada nas redes sociais, a boate Verdant disse que as notícias começaram a circular logo depois do resultado das eleições e foram prontamente desmentidas pela casa noturna. A boate afirma que nada aconteceu dentro da casa e que, sendo assim, a boate não teria nenhuma ligação com as agressões na região do Largo da Ordem, já que teria acontecido uma briga nos arredores da casa noturna que foi controlada por policiais, sem registro de feridos ou maiores consequências.
Largo da Ordem, onde ocorreram as supostas agressões (crédito: Leonardo Cordasso)
A Verdant afirmou nas redes sociais que havia o conhecimento da realização de movimentos pró-Bolsonaro e, por motivo de precaução, dobraram a equipe de segurança, que foram orientados para acompanhar os clientes até estacionamentos, carros ou uber. “Estamos na esperança de que as autoridades tomem providências quanto a estes atos de violência e continuaremos fortificando nossa equipe de segurança e tomando medidas preventivas para garantir que não ocorram incidentes dentro do estabelecimento e nas proximidades”, afirmou a gerente da casa noturna Vic Leardini.
Visão da casa noturna Verdant a partir do monumento do Cavalo Babão (crédito: Helena Sbrissia)
O agente de televendas Simon Vinicius Trigueiro estava no local e conta que logo após sair da balada Verdant, ficou próximo ao monumento do “Cavalo Babão”, situado no Largo da Ordem. Trigueiro conta que após uma briga de um casal de lésbicas e, separadamente, outro conflito entre dois travestis, a Guarda Municipal começou a disparar tiros de borracha: “ eu e alguns amigos fomos atingidos”.
À respeito da fake news de agressões na balada, ele conta que ficou sabendo sobre ainda dentro do estabelecimento, por meio das redes sociais como Twitter e Instagram. “As informações eram de que tinham cercado a Verdant e que tinham ocorrido mortes nas proximidades. Felizmente eram realmente fake news que estavam circulando, mas na hora o desespero foi grande”, finaliza.
Porém, a fake news gerou consequências, como a grande preocupação de amigos e familiares de pessoas que frequentam o local ou fazem parte do grupo LGBT, que costumam frequentar a casa noturna. O agente de televendas conta que muitas pessoas entraram em contato com ele :” muitas pessoas se preocuparam com o quê estava acontecendo no centro. A situação era de caos, muitas pessoas estavam andando na rua com medo”. Ele acrescenta que na proximidades realmente haviam pessoas com pedaços de pau na mão, motoqueiros andando de máscara “foi um pouco apavorante na hora”, diz ele.
Apesar de frequentar o local e gostar muito do ambiente, ele acredita que o estabelecimento não se posicionou de forma correta.
A estudante de arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Anna Klaine recebeu a informação por meio de uma série de postagens que uma amiga próxima tinha feito sobre os acontecimentos daquela noite devido aos resultado das eleições presidenciais. Assim, ela acabou compartilhando a informação também e somente após uma apuração descobriu que a notícia era falsa.
Foi a primeira vez que Anna compartilhou uma fake news, até por que ela diz sempre ler e procurar diferentes fontes para compreender os fatos. “Me senti muito mal de ter compartilhado e até essa situação serviu para que eu tomasse muita atenção. Essa situação gerou muito pânico para a comunidade LGBT durante os dias que se seguiram, então é sempre bom verificar tudo que recebemos”.
A estudante comenta que essa notícia falsa gerou um grupo de Whatsapp com todos os LGBTs, para que se compartilhe casos de violência isolados. Ela também acabou recebendo uma mensagem de sua prima, que estava preocupada com a situação e gostaria de saber onde ela estava em meio a confusão gerada pela fake news.
Preocupação gerada pela compartilhamento de notícia falsa (Reprodução: Anna Klaine)
Segundo a Polícia Militar e a Guarda Municipal, não houve registros de agressões ou brigas nas proximidades da boate Verdant relacionadas à vitória do novo presidente Jair Bolsonaro; Aconteceram apenas duas ocorrências a noite, uma primeira briga que fora dispersa rapidamente por policiais em que não houve feridos, e uma segunda briga nas imediações do Largo da Ordem às 22 horas, envolvendo uma pequena massa de pessoas — rapidamente dissipada pela polícia com balas de borracha. A Polícia Militar disse que esse incidente não teve relação política.
A respeito do tema fake news a equipe do Comunicare entrevistou o jornalista e administrador da página “Virei Jornalista”, Júnior Caritel, que alcança jornalistas e estudantes de jornalismo nas redes sociais por meio de suas postagens relacionadas à profissão.
Caritel fala que, por trabalhar com redes sociais, acaba recebendo muitas notícias falsas, mas acrescenta que o “faro jornalístico” ajuda-o nessas horas: “Devemos sempre ficar com o pé atrás com tudo que recebemos. Nunca caí em uma fake news, e respiro aliviado! Acho que é porque sou desconfiado, então acabo apurando tudo”.
Para ele, os jornalistas em uma situação como essa da boate Verdant deveriam realizar uma checagem dos fatos: “Primeiramente apurar com quem enviou essa informação, e saber de quem ela recebeu, já seria uma forma de garimpar a notícia até chegar na fonte. Outra forma importantíssima é verificar com autoridades a informação, ligar para a polícia e bombeiros e saber se realmente aconteceu aquilo que as pessoas estão compartilhando, e se houve ou não alguma ocorrência do tipo”.
Quando o assunto é fake news e o jornalismo de modo geral, Caritel se mostra contente, visto que para ele os veículos sérios e de grande alcance sempre combateram as notícias falsas, fazendo seu papel. Contudo, ele ressalta que a mídia em geral também deve realizar este trabalho, visto que as consequências da falta de apuração ou compartilhamento de notícias não-verídicas podem ser sérias.
Apuração do jornal Gazeta do Povo sobre o caso (reprodução: Gazeta do Povo)
Em relação à realidade brasileira, ele também acredita que o jornalismo faz sua função corretamente nesse sentido, e cita como exemplo as eleições deste ano que foram alvo de muita propagação de notícias falsas. Caritel acredita que as pessoas estão mais espertas em relação a notícias de modo geral, mas que mesmo assim é importante reforçar que nem tudo que está na internet é verdade.
“As pessoas precisam sair do senso comum. Pesquisar é preciso antes de sair compartilhando, perguntar se aquilo é verdade e se a pessoa falar que não, melhor nem mexer com essa notícia que você recebeu. Fake news sempre existiu, o que é importante agora é ficar mais atento com tudo que a gente vê e ouve”, complementa ele, que acredita que os jornalistas têm a missão de propagar a verdade, a informação e o fato.
As notícias falsas são propagadas diariamente, com isso a equipe do Comunicare preparou um vídeo com dez dicas para você não cair em uma fake news. Confira: