CVV dobra atendimentos no Paraná após ligação se tornar gratuita

Mudança ocorre dois meses antes da Campanha Setembro Amarelo, que busca prevenir ocorrências de suicídio
Por Henrique Zanforlin e Stefany Mello
O Centro de Valorização da Vida (CVV) passou a ter o dobro de atendimentos por dia no Paraná. O aumento se dá porque, desde julho deste ano, as ligações se tornaram gratuitas, por meio do número 188. Com a chegada do Setembro Amarelo, campanha que valoriza a vida, a mudança teve um impacto significado entre aqueles que precisam de ajuda.
O CVV é uma associação sem fins lucrativos, que busca combater o suicídio através de apoio emocional e divulgação de prevenções de forma gratuita. Segundo o porta-voz do CVV no Paraná, Quintino Dagostin, os atendimentos variam de assuntos desde depressão e ansiedade até problemas familiares. O voluntário aconselha que caso alguém próximo esteja passando por algo difícil e precise de auxílio, é importante antes de tudo respeitar e saber ouvir, porque muitas vezes o simples fato da pessoa expressar o que sente já é de grande ajuda.
Houve no mundo um aumento de 18% das pessoas com depressão, segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os anos de 2005 e 2015. Só no Brasil 11,5 milhões são vítimas da doença. Para a psicóloga Lorraine Rosa, é importante notar que hoje se fala muito mais sobre a depressão e isso ajuda a identificar os casos. “Quando a gente conhece o que está acontecendo, fica mais fácil de enxergar na gente mesmo e no próximo a questão da depressão”. Ela também afirma que outro motivo por trás do aumento dos casos de depressão é consequência das redes sociais.
Eloise (que preferiu não se identificar) sofre de depressão e já tentou suicídio. A estudante disse que normalmente não vai atrás de ajuda, e que quando acessou o site do CVV, ele não estava funcionando. “Eu não costumo procurar com quem conversar, meu impulso é me isolar. Eu sinto que incômodo ou que estou passando vergonha”.
Eloise também conta que toma antidepressivos, mas que o medo de procurar ajuda também é culpa do preconceito das pessoas. “Meu medo de procurar ajuda se tornou maior também porque quando tentei suicídio me levaram de ambulância para UPA e lá eu passando mal pelos remédios e ainda em surto tive que escutar a médica me dizendo que ia para o inferno”.
Segundo a psiquiatra Cristiane Geyer, a depressão é uma das doenças que mais impacta o dia a dia das pessoas, podendo causar uma limitação até maior que um ataque cardíaco. Mas apesar da gravidade, ainda existe um estigma na sociedade, principalmente quanto ao uso de medicamentos antidepressivos. Para a psiquiatra, isso é consequência da forma como se identifica uma depressão.
Setembro amarelo busca prevenir suicídios
O Setembro amarelo foi criado em 2015, é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e também pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O objetivo do movimento é conscientizar a população sobre a realidade do suicídio durante todo o mês de Setembro, já que no dia 10 é celebrado o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
A cor amarela adotada para colorir o movimento mundial tem como parte fundamental a iluminação ou coloração de locais nas cidades, também como monumentos e construções. O projeto também é difundido por meio de laços amarelos nas fachadas de prédios públicos e privados para que as pessoas lembrem que é necessário falar sobre a prevenção do suicídio.
Para entrar em contato com o CVV o número de telefone é 188. O atendimento é anônimo, realizado por voluntários que guardam sigilo e a ligação é gratuita para todo o país. Também é possível acessar o chat online pelo endereço www.cvv.org.br, ou ir a um dos postos de atendimento físico.