Luta diária pelo direito da mulher

por Equipe Festival de Teatro
Luta diária pelo direito da mulher

Por Gabriela Savaris e Ruan Felipe

Desde antes da publicação da obra Reinvindicação dos Direitos das Mulheres em 1792 e as alterações no código civil dando direitos igualitários as mulheres comparado aos homens, a mulher luta pelos seus direitos em busca de representatividade, igualdade e respeito, porém tal conquista ainda é desrespeitada e algumas vezes até desconhecida, fazendo com que mulheres convivam com o machismo tornando-as inferiores mesmo sem saber.

Segundo o Instituto Maria da Penha por meio do projeto Relógio da Violência, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil, porém o número de denúncias e de punição são totalmente inferiores, quase nulos.

Para a bióloga e ex-militante pelos direitos da mulher Caroline Ribeiro, a união das mulheres que sofre esse tipo de violência, proporciona a coragem necessária para o combate desse tipo de abuso, superando o medo de denunciar o parceiro agressor e proporcionando o apoio necessário para que a situação seja resolvida da melhor maneira possível.

Apoio esse que a advogada Roxanna Hakin encontrou para se livrar dos dotes machistas impostos pelo seu pai durante sua criação. Roxanna conta que desde pequena foi criada com o intuito de servir a família e de não trabalhar fora. “ Meu pai sempre foi muito machista, para ele mulher deveria ser dona de casa e em hipótese alguma trabalhar fora. Eu sonhava em fazer medicina mas meu pai queria me obrigar a fazer odontologia por considerar que medicina não era para mulher, e odontologia eu poderia trabalhar em casa”.

Ainda lutando pelo direito de cursar uma universidade de um curso que gostaria, Roxanna conta que enfrentou seu pai e se inscreveu escondido no vestibular de advocacia, seu segundo sonho. “Não contei para ele até o dia de ver o resultado, ele olhando a lista de aprovados de odontologia me questionou perguntando o porquê de eu ter reprovado, porém disse que ele estava olhando na lista errada e lhe mostrei minha aprovação no vestibular de direito. Isso ocasionou diversas ofensas e ele deixando de falar comigo durante um ano”.

Atualmente, Roxanna relembra as palavras de seu pai e percebe que as palavras machistas que ele dizia sobre “advocacia não ser para mulher, de ser profissão para homem” ainda é o pensamento no mercado de trabalho na área. “É complicado até hoje, as mulheres são desvalorizadas, são obrigadas a se sujeitarem a receber metade do que os homens recebem pela mesma função”.

A realidade abusiva também fez parte da história da aposentada Jucimari Branco, que relata que aos seus 21 anos, passou por um relacionamento abusivo. “Ele era muito romântico, atencioso, dedicado, até que a partir de um dia aos poucos ele começou a falar ‘saia muito curta, não vai sair assim’. Assim aquele namoro passou de amor para machista”.

Jucimari conta que o namorado foi a “podando aos poucos”, aplicando cada vez mais atitudes machistas em seu dia a dia na relação. “Íamos no bailinho e ele dançava comigo a noite toda, me puxava para comer rápido e ir embora, tudo para que eu não interagisse com meus amigos, não conversasse com homem”.

A aposentada enfrentou o abuso e decretou o fim do namoro quando o namorado quis obriga-la a trocar de roupa achando que estava muito curto. Com o término, o rapaz passou a insultá-la e obrigou-a devolver todos os presentes que ele havia dado, alegando que Jucimari não era digna de receber alguma coisa. Jucimari conta que para se libertar do abuso, foi necessário o apoio da família para que em conjunto conversasse com o rapaz para que a deixasse em paz.

Vídeo: https://drive.google.com/file/d/1tXQBi9-3gqOmEGoZYRTO6olomwUdA1m6/view?usp=sharing

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Como buscar ajuda

Muitas vezes o medo e a aceitação superam a vontade de denunciar um abuso machista, e isso acaba se tornando a realidade diária das mulheres brasileiras. A bióloga e ex-militante dos direitos da mulher Caroline Ribeiro, explica que muitas das vezes por a mulher não ter acesso a um conhecimento de seus direitos, sendo o único ensinamento de família vindo de sua mãe e sua avó, acabam aceitando tudo que ocorreu com seus familiares de forma normal, sem questionar se é ou não um abuso machista.

A ex-militante destaca que a mulher cresce vendo a mãe sendo submissa ao pai, servindo a casa e a família, mesmo sendo privada de liberdade acaba achando isso algo normal, mas não é. “é muito difícil que uma mulher que não tem contato com o feminismo, ou com outras mulher com vivências diversas dessa que ela vive, identificar tal ato como machismo. Se a mulher sempre vivenciou isso, ela mesma, e seus exemplos próximos, sua mãe, sua vó, as mulheres da sua família também viveram esse tipo de relação, é muito difícil que ela chegue à conclusão de que isso está errado”.

Carolina ainda descreve necessário um tratamento especial nesses casos por parte das organizações governamentais, para que tenha um suporte adequado para a mulher. “É necessário que no poder público, no caso a Delegacia da Mulher, ou a Casa da Mulher Brasileira (nas cidades em que há a CMB), a equipe esteja preparada para acolher essa mulher, ouvi-la e não a desacreditar. E proporcionar no local de atendimento segurança para que o agressor não consiga acessá-la. Em alguns casos, em que a agressão já ocorreu ou a mulher é ameaçada e não pode retornar à sua residência, é necessário que o poder público proporcione a essa mulher condições de abrigá-la’’.

Essa realidade retrata a vida da gerente administrativa financeira Roberta Néia, que criada entre três irmãos homens, cresceu escutando que mulher deveria ser “certinha” e que deveria ser submissa a família. “Para meu pai, a mulher tinha que ser dona de casa e pronto, nem pensar em sair para fora de casa buscar seus sonhos”.

A mesma situação é pressentida pela estudante Sofia Vargas, que relata o mesmo comportamento por parte de seu pai. “Ele sempre diz que menina tem que ser certa, nada de andar fora da linha”. Sofia destaca ainda como é vista a questão de a mulher falar palavrão em sua família. “Eles falam que mulher que fala palavrão é puta, que tem que ser respeitável”.

O preconceito com a mulher vai além dos laços familiares, como se resume o caso de machismo relatado pela estudante Isabela Simas praticado pelo seu próprio professor universitário. A estudante explica que ao precisar buscar sua filha na creche, o professor questionou a aluna perguntando se isso era mesmo uma prioridade para ela comparado a aula dele.

“Estávamos aguardando para apresentar um seminário, então fui falar com ele para que meu grupo fosse apresentar antes para que eu pudesse buscar minha filha na creche e ele questionou se era minha prioridade isso, como se eu devesse ser obrigada a servir a aula dele ao invés de buscar minha filha pequena na aula. O engraçado é que ele busca a própria filha na aula, mas eu não posso”.

Isabela buscou reclamar porém não teve sua denúncia valorizada por parte da coordenação da universidade.

 

Onde buscar ajuda de coletivos

Em Curitiba há diversos coletivos. Os mais conhecidos são a União Brasileira de Mulheres (UBM) e a Marcha Mundial de Mulheres (MMM). Existe também a Frente Feminista de Curitiba, que na verdade não é um coletivo, mas a organização de vários coletivos feministas de Curitiba e RMC, são mais de 30 entidades, que organiza manifestações e estratégias de luta social. A Frente Feminista também organiza em Curitiba o 8M municipal. No facebook há a página 8M Curitiba, onde além do compartilhamento de notícias e materiais sobre os direitos da mulher, sobre empoderamento feminino e outros assuntos correlatos, são divulgadas as ações organizadas na Grande Curitiba.

 

 

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