Representatividade delas

por Ex-alunos
Representatividade delas

Mesmo reconhecida como importante para a democracia, participação de mulheres na política é baixa

Por Talita Souza, Barbara e Rita

Igualdade de gênero é a quinta meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para serem atingidos até 2030. Entre suas disposições está “a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública”. No Brasil, Lei nº 9.504/1997 define que cada coligação deve ter 30% de sua composição de mulheres. Mesmo assim, a realidade se desvia do que está previsto nos documentos.

Nosso país é ocupa a posição 154º em representatividade feminina na política, em uma lista de 193, com 4% dos ministros sendo mulheres o que representa uma pessoa em cada 25. Além disso, dos 513 deputados, 55 são mulheres. Entre os senadores, elas são 12 em 81. Os dados são da pesquisa Women in Politics, de 2017 , feita pela Inter-Parliamentary Union, que reúne informações do poder legislativo em todo o mundo.

Dados mais recentes divulgados pelo governo federal tornam esse cenário ainda mais desigual: com a inclusão de quatro ministérios, hoje são 28 homens e uma mulher no Planalto. As deputadas são 58, mas apenas 53 estão em exercício atualmente. Apenas a quantidade de senadoras aumentou: agora são 13 em um universo de 81.

Kauanna Batista Ferreira é líder da ONG Organização de Desenvolvimento do Potencial Humano (ODPH), que incentiva o empreendedorismo feminino na Vila Torres, comunidade localizada no Prado Velho, em Curitiba.

Ela diz que apesar de acreditar que as mulheres estão conquistando espaço, ainda há o que avançar. “Não me sinto representada em nenhum âmbito. Nem em esfera municipal, estadual e federal. Nao consigo vislumbrar nenhuma mulher realmente atuante pela força feminina”.

Para Kauanna, o poder político diversificado contribui não só em questões relacionadas à igualdade de gênero, mas a sociedade como um todo. “As mulheres em alguns sentidos e de algumas formas têm olhares de desenvolvimento diferentes dos homens. A gente ter um equilíbrio de pessoas no poder que possam trabalhar em benefício da comunidade é muito melhor”, completa.

Acadêmica de direito e participante do Coletivo Feminista Três Marias da PUCPR, Gabriela Mafra, acredita que a participação feminina na política evoluiu, contudo ainda está longe do ideal. “Está mudando. Ainda que o cenário esteja difícil, eu me sinto mais forte quando vejo mulheres se candidatando e sendo eleitas. Estamos crescendo em número e votos”.

Na visão da jovem, o assunto ainda é alvo de preconceitos e pouco discutido no meio acadêmico. A estudante ressalta que a sua entrada na faculdade e, consequentemente, no coletivo feminista, foram essenciais para ela compreender qual o papel da mulher na sociedade e no âmbito político de candidaturas e eleições

Partido “da mulher”

Fundado em 2008, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) foi criado para “ser um instrumento de trabalho, pela defesa da igualdade social e de direitos, do respeito às individualidades, e da busca pela equiparação econômica, social e política entre homens e mulheres”.

No Paraná, quem está à frente da sigla é Alisson Wandscheer. Ele iniciou sua carreira política aos 18 anos, quando se candidatou a vereador em Fazenda Rio Grande, cidade da região metropolitana de Curitiba. Ele diz que o partido se preocupa com a colocação das mulheres em todos os âmbitos sociais e também na defesa da participação do público feminino na política.

Wandscheer defende que as mulheres ainda não são muitas no meio político. “É imprescindível preparar politicamente as mulheres para atuarem mais fortemente na política através de cursos de formação política, seminários e dar voz às lideranças femininas”, sugere.

Ele justifica que é o presidente de um partido que faz referência às mulheres, tanto no nome como na proposta, por um critério de escolha de representantes. Diz que entrou no PMB por acreditar nos ideais do partido e por crer que a mudança deve acontecer de todos os lados, já que seria “inviável um partido formado só por mulheres, pois seria uma sigla excludente”.

O presidente ainda alega que não é possível discutir igualdade de apenas um ponto de vista. “É preciso ter a clareza que PMB é uma logomarca, como o PT se diz ‘dos trabalhadores’ e o PV como sendo ligado ao verde”.

Com relação aos números, o PMB possui 2.404 filiados no Paraná, sendo 1.298 são mulheres. No Brasil, de 42.624 pessoas filiadas do partido, 23.478 fazem parte do público feminino.

Participação efetiva

A mestre em ciências políticas Karolina Mattos Roeder explica que ter mulheres no poder é essencial para a representação e encorajamento da figura feminina. Para ela, depois da presidência de Dilma Rousseff, mais mulheres ocuparam cargos de alto escalão ministerial. Contudo, após o impeachment da ex-presidente, os ministérios voltaram a ter só homens no alto escalão da política federal.

Karolina afirma que o sistema político funciona com a exclusão da participação feminina. “A proporção de mulheres no Legislativo nacional é irrisória, 9%, a Câmara dos Deputados um lugar extremamente masculino e hostil às mulheres, e, me parece, pela atuação das mulheres em bloco na Câmara quando se trata de pautas que as afetam, que essa é uma forma de sobrevivência à política tradicional”.

De acordo com ela, se há algum deslize por parte da mulher no sistema, comentários de cunho machista, desqualificando a trajetória e subestimando a inteligência podem acontecer. “Normalmente isso não ocorre com os políticos homens. Na preocupação em passar ilesa, muitas mulheres acabam adotando uma posição mais hostil, assumindo trejeitos e trajes mais masculinos, pois se mostrar feminilidade, sofrerá risco de assédio”.

No contexto do marketing, a especialista diz que a imagem feminina é descrita como alguém pura, maternal e responsável por cuidar dos cidadãos. Para ela, a participação da mulher na política ainda é mínima, já que estatísticas ainda mostram que não houve crescimento de cadeiras ocupadas por mulheres em nenhum nível.

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