Preconceito marca reinserção de ex detentas

Por Claudia Fernandes, Gabriel Witiuk, Gabriela Savaris e Nicolle Heep
A reinserção de ex-detentas na sociedade é um cenário repleto de obstáculos. Um passado no crime é um dos principais motivos pelos quais essas mulheres não encontram trabalhos e sofrem preconceito. A falta de experiência e de diploma também afeta no julgamento das empresas na hora de empregar as ex detentas. O Paraná tem cerca de 600 mulheres no sistema prisional como apontam os dados do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen).
A partir dos mesmos dados, se sabe que das 600 mulheres que estão nas prisões do Paraná, cerca de 200 estão no mercado de trabalho, ou seja, apenas um terço das mulheres conseguiram um emprego. As que conseguiram, o fizeram devido às parcerias da Depen com as entidades privadas. (Gráfico 1 mostra a luta feminina para voltar ao mercado).
Em meio às dificuldades, existem alguns órgãos auxiliadores para que a reinserção ocorra. O Depen é um desses exemplos e diz ter como missão “promover a reinserção social dos apenados, através do respeito à pessoa presa e humanização das prisões”. O departamento trabalha investindo na educação e experiência dos detentos enquanto estão cumprindo suas penas.
Segundo o Depen, os detentos podem aprender uma variedade de habilidades, entre elas: costura, panificação, metalurgia e restauração de livros. Além disso, podem terminar os seus estudos, se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e participar de cursos profissionalizantes.
O departamento trabalha em parceria com empresas e todas as entidades podem fazer parte do programa. Qualquer empresa que não comprometa a segurança do detento durante a fabricação ou pós-produção do produto pode se candidatar, segundo informações do site do Depen.
A empresa que contrata um detento o paga setenta e cinco porcento de um salário-mínimo. Além de ser uma mão de obra barata para a empresa, esse trabalho é muito bom para o preso que tem a pena diminuída em um dia para cada três dias trabalhados.
O diretor do Depen, Luís Cartaxo Moura, explica que esse incentivo é grande por parte do estado e que a intenção é sempre crescer. “É um sistema que vem funcionamento bem. De nada adianta transformarmos as penitenciárias em depósitos de presos, nós precisamos implementar políticas que ofereçam condições para que os detentos saiam preparados para atividades laborais e tenham a opção de não voltar ao crime” declara o diretor.
Além de educação e trabalho, o Depen dá aos presos assistência material, religiosa, psicossocial e jurídica.
Escritório Social
A coordenadora do Escritório Social, Ananda Charlenge explica que o escritório faz parte de um projeto do Conselho Nacional de Justiça que se chama Cidadania dos Presídios.
O escritório de Curitiba é o segundo do Paraná e tem como função dar apoio aos egressos e monitorados do sistema prisional (Gráfico 2 apresenta essa situação de reinserção). Além disso, reúne serviços como encaminhamento para o trabalho, qualificação profissional, documentação. Tudo isso é feito para [re]integrar os regressos na sociedade.
A unidade de produção PCUP é modelo nesse quesito. Nessa unidade todos os presos trabalham, estudam e fazem cursos e assim recebem uma qualificação profissional. E quando concluem são acompanhados pelo escritório, para encontrar emprego.
Nesse tipo de serviço o que mais há é procura de trabalho, então são feitas parcerias com empresas que aceitam ex detentos para trabalhar. Ananda explica que, apesar de tudo, é muito difícil conseguir empresas parceiras devido ao preconceito que tem com essas pessoas. “O problema é que empresas sempre pedem currículo e pessoas assim não tem currículo. Por isso esse trabalho é social e visa dar uma vida “normal” aos egressos do sistema prisional”.
Uma das auxiliadas pelo projeto é Daiane Mariano, 33 anos. Você pode ouvir a história dela nesse depoimento em áudio.
O Menino e o mundo
As dificuldades da reinserção não são exclusividades das mulheres. Muitos homens têm problemas para se reintegrar a sociedade e conseguirem um emprego por conta do histórico penal que carregam. Porém, uma curva fora dessa realidade, é Thales Malassise.
Nascido em Londrina, no interior do Paraná, Thales teve muitas dificuldades durante a infância e um envolvimento com o uso e tráfico de drogas ilícitas quando ainda era adolescente. Com uma trajetória de vida cheia de dificuldades, ele conseguiu superar a situação pós cumprimento de pena.
A história dele é diferente. Thales foi atrás de um sonho: viver a partir da música. E hoje ele faz parte do grupo de rap Uzi , junto ao outro rapper Makalé. Contamos um pouco mais dessa história nesse perfil de cinco capítulos sobre a vida e superação de Thales.