Agrofloresta: aliada na preservação do meio ambiente

por Gisele Passos
Agrofloresta: aliada na preservação do meio ambiente

O sistema explora as potencialidades do terreno

 Eduardo Martinesco e Vanessa Gavilan

À primeira vista, pode parecer uma mata crescendo sem interferência humana, tal a quantidade de árvores. O sistema agroflorestal (SAF) é uma forma de uso ou manejo da terra em que se combinam diversas espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras). Estas, podem dividir espaço com cultivos agrícolas e pecuários, tais plantações acontecem de forma simultânea ou em seqüência temporal.

As agroflorestas adaptam-se em diferentes regiões e clima, mas vale ressaltar que para cada tipo de solo existe uma plantação que seja mais viável. Para entender o que é esse sistema, Mariana Schuchovski, engenheira florestal, faz uma comparação com as grandes plantações vistas no Brasil afora.

Normalmente, na monocultura, é cultivada apenas uma única semente somada a um grande número de máquinas que faz a colheita. A especialista considera este um formato industrial de produção de alimentos, em que a subsistência familiar é deixada de lado em detrimento das grandes indústrias.

O modelo atual de produção de alimentos é uma indústria como qualquer outra. Há sementes sendo modificadas geneticamente e uso desmedido de produtos prejudiciais à saúde, tanto humana, quanto da natureza em seu entorno. Desta forma, ao plantar uma monocultura em determinado solo, o meio ambiente é modificado e, infelizmente, degradado.

A engenheira florestal ilustra, “sabe aquelas fotos de dez tratores em uma plantação fazendo uma grande colheita? A agrofloresta é tudo aquilo que a gente não está vendo nestas fotos”. Realidade diferente desta apontada por Mariana, em Morretes, região litorânea do Paraná, a família Gnatta faz do sistema agroflorestal um estilo de vida.

Amora Celeste e Luiz Paulo Gnatta vivem em uma comunidade há 10 quilômetros do centro da cidade. Ambos graduados, optaram por seguir um caminho em comum: estudantes da terra, agricultores e educadores sociais. O casal  descreve-se como jovens da cidade que voltaram para o campo porque desejavam se reconectar com a natureza. Sendo assim, declaram que voltaram para a sua raiz.

A filosofia de vida deles baseia-se em cultivar uma vida auto sustentável por meio da prática da agrofloresta. Os agricultores optam por não trabalhar com dinheiro, a forma de sustento é o escambo, ou seja, trocam o que produzem por mercadorias ou serviços de outras comunidades da região, principalmente na mão de obra de seu SAF.

Motivados por essa conexão com o meio ambiente, os jovens desenvolvem projetos voltados à agrofloresta em sua comunidade. Promovem encontros, fazem pesquisas e imersões mata à dentro com estudantes e especialistas. Criam materiais didáticos, muitas vezes, feitos à mão, para esclarecer e incentivar a sustentabilidade na vizinhança.

Apesar de optarem por esse estilo de vida, eles não querem ser estereotipados como pessoas que se isolaram na mata e não querem interagir com a sociedade. “Muito pelo contrário, nós vivemos em uma comunidade e buscamos interagir através da prática da agrofloresta, podemos dizer que nos autogovernamos”, diz Gnatta.

Amora aprendeu a plantar quando se mudou para a chácara dos Gnatta. “Aqui plantamos a cana, mas eu também planto as ervas, bananas, limão, árvores frutíferas e tudo aquilo que a natureza nos oferece. Queremos unir tudo o que a gente tem neste solo tão rico”.  Ela e Luiz, para aproveitar ao máximo o que a natureza oferece para o cultivo, passam seus dias trabalhando no manejo da terra e se dedicando aos estudos.

 

Mas por que criar uma agrofloresta?

Uma das definições para o conceito de sustentabilidade é não comprometer o meio ambiente para as gerações futuras. Essa é uma das grandes colaborações que a prática do sistema agroflorestal proporciona ao planeta. Os benefícios gerados pelo SAF estão atrelados ao tripé da sustentabilidade, sendo eles: sociais, econômicos e ecológicos. Para ilustrar:

  • Aproveitamento do solo: são plantadas diversas espécies de frutíferos e se tem produção durante todo o ano, o que gera segurança alimentar, trabalho e aumento na renda. Consequentemente, utiliza-se das culturas perenes para continuar no campo, diminuindo o êxodo rural;
  • Recuperação de áreas degradadas: o plantio simultâneo de diversos tipos de sementes simula um sistema natural e proporciona uma diversidade maior de espécies animal e vegetal;
  • Produção orgânica: em ambientes como esse, o ataque de pragas tem menor incidência e o uso de químicas se torna inútil. Os alimentos produzidos de forma orgânica são muito mais saudáveis.
  • Promove a Interação com a comunidade e reduz custos.

 

Alternativa para o planeta

O sistema agroflorestal mostra-se uma alternativa necessária em um mundo cada vez mais aquecido e com seu meio ambiente sendo degradado. A população crescente (seremos 8,5 bilhões de Homo sapiens em 2030, segundo estimativas da ONU) precisa aliar a produção de alimentos com a preservação de florestas para garantir o equilíbrio climático do planeta.

Como todo sistema de plantio, o SAF também possui suas desvantagens. Apesar do número de benefícios ser bem maior, se analisado pelo viés econômico, a agrofloresta não supre a atual demanda por alimentos. Segundo Mariana, se todas as plantações fossem enquadradas num sistema agroflorestal, o trabalho seria mais extenso, demorado e de retorno financeiro mais lento. Contudo, ela defende a prática e acredita que a aderência ao modelo será cada vez maior.

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