Sírios usam culinária para se integrar em Curitiba

por Ex-alunos
Sírios usam culinária para se integrar em Curitiba

Sul é a região que recebe maior número de refugiados no país

Por Beatriz Mira e Débora Dutra

Se reinventar, encontrar espaço e aceitação em um país com uma cultura totalmente diferente da que foi criado não é uma tarefa fácil, mas que nos últimos anos tem sido muito vivenciada por famílias árabes. O Brasil é conhecido por ser um país acolhedor e muitas famílias refugiadas escolheram Curitiba como lar para seu recomeço de vida.

Nos últimos anos, de acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o número total de solicitações de refugio aumentou mais de 2.868% entre 2010 e 2015 e em sua grande maioria vem da África, Ásia (incluindo Oriente Médio) e o Caribe. Ainda segundo a ACNUR, a região sul é a que mais recebe refugiados em todo o país, totalizando 35%.

No mês de setembro aconteceu no Coletivo Alimentar um brunch preparado por famílias sírias e uma exposição de fotos que retrata a vida de três irmãos sírios, Amr, Bahaa e Faiz Houdaifeh, em Curitiba. O evento aconteceu por uma iniciativa do Instituto de Reintegração do Refugiado Brasil (ADUS) e do Coletivo Alimentar.

O Adus é responsável por dar suporte aos refugiados e reintegrá-los na sociedade. O instituto surgiu há 7 anos em São Paulo, se expandiu, chegou na capital paranaense e trabalha com parcerias em outras instituições de línguas e acolhimento que já trabalham com refugiados. A coordenadora da Adus em Curitiba, Martha Toledo, conta que optaram por fazer parcerias porque há muitas pessoas que trabalham com refugiados na cidade.

A proposta de fazer um brunch árabe surgiu com a intenção de divulgar e trazer proximidade com o público. Para Martha, é preciso dessa aproximação e conscientização de integrar os refugiados. “A esperança é que daqui alguns anos não precisem da Adus ou outras instituições para essa compreensão de acolhimento e dar espaço a outras culturas. Seja algo natural,” conclui.

Além da gastronomia árabe, o fotógrafo Diogo Sabóia também pode expor o resultado de seu trabalho após acompanhar a vida de três sírios recém-chegados no Brasil. O fotógrafo quis contar a história por trás das lentes, e retratar a vida dos irmãos que, segundo ele, por uma coincidência da vida os encontrou após saber que estavam cozinhando para um restaurante na região central de Curitiba. “Durante quatro meses acompanhei eles praticamente todos os dias, estavam bem perdidos com dificuldades de lugar para morar, trabalhar, etc.”, retrata Sabóia.

O fotógrafo que acompanhou a rotina dos irmãos de perto, conta que mesmo estando na condição de refugiados, há diferença entre eles e no que buscam ao sair de seu país e vir ao Brasil, entretanto, há um estereótipo quando se fala em árabes. Para ele, o caso dos sírios é diferente porque vieram para trabalhar e possuem alguns conceitos desconstruídos sobre a cultura árabe, outro tipo de observação da vida. 

Miscigenação e empreendedorismo

A Psicóloga Rima Awada Zahra, que é de origem libanesa, destaca que há muitos mitos em torno dos refugiados e um deles é que são chamados de imigrantes econômicos. “Diferentemente dos imigrantes que buscam por uma melhor condição econômica, os refugiados se caracterizam pela migração forçada. Sempre escutamos a questão xenofóbica sobre roubo de emprego, mas na verdade eles não estão aqui para competir, mas para fortalecer o trabalho em todos os níveis”, afirma.

Como forma de se estabelecer e firmar suas raízes, os refugiados, que na maioria das vezes possuem curso superior, busca abrir seu próprio negócio. A psicóloga conta que isso acontece, principalmente, no segmento alimentício porque há muita dificuldade em exercer a profissão ao qual são diplomados e acabam optando por colocar em prática as habilidades com a culinária típica do país de origem como forma de sobrevivência.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos árabes ao chegarem no Brasil, Rima ressalta a importância de vê-los como participantes e também auxiliadores na construção da sociedade brasileira.

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