Feira do Poeta lança 30 livros em 8 meses

Veja como divulgar trabalhos no local
Por Fabíola Junghans, Gabriel Vitti e Yasmin Soares
Após 12 anos fechado, o projeto Feira do Poeta foi reaberto e, desde então, já lançou mais de 30 livros de escritores curitibanos. Localizada no Largo da Ordem, a feira tem a coordenação do também poeta Luiz Carlos Brizola
Reinaugurada no dia 29 de março, aniversário de 322 anos da capital, a feira funciona no mesmo espaço onde, por mais de três décadas, se encontraram talentos da literatura local, como Vasco Taborda e Leopoldo Scherner. Segundo Brizola, a decisão de reabrir o lugar surgiu juntamente com os colegas, quando perceberam que alguns escritores do projeto “Escritiba na Rua” não tinham condições financeiras de alugar espaços para lançarem suas obras. As livrarias chegavam a cobrar cerca de 30% dos lucros, o que desanimava os novos autores.
Como o antigo local estava sem uso e pertencia à Fundação Cultural de Curitiba (FCC), foi resolvido que o prédio seria utilizado novamente para o projeto. “Hoje, aqui virou um ponto de encontro desses poetas. Eles não tinham um lugar para se encontrarem”.
Os lançamentos ocorrem sempre aos domingos, e tudo que o autor precisa fazer é chegar à Feira do Poeta e apresentar o livro. Nenhuma seleção de conteúdo é feita, pois, segundo o coordenador, o local é um espaço aberto a todos os públicos e gostos.
A feira conta com 11 dos 30 poetas da década passada, além de aproximadamente 60 escritores novos. Funcionando de maneira livre, não é necessário cadastro ou registro para participar, uma vez que, segundo Brizola, “é a casa deles,ponto final eles entram quando quiserem, vão embora quando quiserem”.
Para o lançamento, os livros precisam ser editados, diagramados e revisados ao menos duas vezes por corretores diferentes. A Feira do Poeta, porém, não disponibiliza recursos para os autores publicarem os livros, sendo o espaço reservado apenas para o lançamento das obras. A feira indica pessoas e empresas que ajudarão os novos escritores com preços mais baixos e acessíveis disseminando cultura.
Escritores aprovam reabertura
É por meio desses incentivos que muitos autores começaram a publicar suas obras. Segundo o escritor Álvaro Polsset, que já teve um livro lançado pela feira, o lugar pode se tornar uma referência para os escritores da nova geração. “Muita gente tem seus escritos de gaveta e é encorajada a apresentar seus poemas e até mesmo publicar seu primeiro livro”.
Poeta há 15 anos, o autor conta que começou a escrever por meio do haicai, estilo de poesia de origem japonesa, e foi um dos colaboradores que sugeriram a reabertura do espaço. Ele também enfatiza a importância de se ter um livro publicado para qualquer escritor, o que demonstra uma conquista de espaço próprio.
Para o autor Junior Franco, a feira é um ponto de apoio não somente aos poetas, mas também aos membros de diversas linguagens artísticas, como contistas, romancistas e cronistas. De acordo com ele, além de ser um ponto de encontro, o local serve de inspiração para muitos escritores, pois permite a troca de informações sobre projetos, eventos e também a declamação de versos.
A presidente da ONG Todas Marias, Goretti Bussolo, lançou, em 4 de outubro a obra Conexão Feira do Poeta, livro composto por poemas de 42 escritores que frequentam o local. Ela conhecia a feira havia mais de 15 anos, mas que fora fechada nas gestões passadas e só reaberta pelos mesmo idealizadores do Sarau. Foi neste momento que Goretti passou a ser uma integrante e figura fácil de ser encontrada entre poetas, escritores e amigos.
Para a escritora, a feira teve uma importância considerável em sua vida, pois foi a partir dela que aprendeu a selecionar pessoas, grupos e ideias. “Foram nas poesias da Feira do Poeta, no Sarau Popular e nos Escritibas na Rua que eu reconheci meus verdadeiros irmãos de alma e ideologia”.
Segundo ela, o trabalho de lançamento é simples, bastando ter dedicação. “O primeiro passo é aparecer e o segundo é conhecer esse povo todo. O restante a própria poesia acompanha”, afirma.
Espaço oferece conexão com o passado
Franco afirma também que a feira resgata a memória, que se une ao presente e deve perdurar, sendo unificada com o futuro (frase clichê e pomposa, unindo passado, presente e futuro; pode ser excluída). Para intensificar o resgate histórico, Brizola afirma que pretende disponibilizar aulas para uso das prensas tipográficas pertencentes ao local, símbolos famosos da feira no passado.
As pessoas que quiserem aprender ou até mesmo reviver este estilo de impressão poderão conhecer o processo de produção dos livros antes do fechamento do espaço, quando todos os poemas eram impressos em prensas tipográficas, em que cada obra precisava ser escrita com peças de chumbo e vírgula então, prensadas manualmente.
Serviço
A Feira do Poeta funciona de domingo a sexta ao lado da Casa Romário Martins, no Largo da Ordem.
O lançamento dos livros ocorre sempre aos domingos durante a tradicional feira que ocorre na região.
4 passos para lançar um livro na Feira do Poeta
Quem deseja lançar um livro pela Feira do Poeta deve seguir os passos descritos a seguir:
1º Passo: Possuir uma obra nova. É preciso que a pessoa tenha um livro escrito inédito, não necessariamente já publicado.
2º Passo: Ter interesse. O escritor deve visitar o local, conversar com os colaboradores e criar vínculos com as pessoas ali presentes, que poderão ajudá-lo até mesmo a publicar a obra vírgula caso não tenha condições. Pode-se publicar sozinho ou em grupo.
3º Passo: Agendar uma data. Os lançamentos ocorrem sempre aos domingos, portanto, é essencial que o escritor marque um dia para a exposição. É preciso agendar com antecedência, pois o espaço tem muitos pedidos.
4º Passo: Comparecer ao lançamento. A Feira do Poeta disponibiliza o espaço, mesas e cadeiras, o autor necessita apenas estar presente com os livros para venda e alguma decoração opcional que queira utilizar. Músicos, caixas de som e até mesmo doces gratuitos são algumas ideias de alguns escritores que já passaram por lá.