Curitiba recebe shows de drag queens internacionais

Apresentações atraem sobretudo público jovem
Por Maria Carolina Oliveira e Mariana Balan
Com a vinda de grandes nomes da música como Ozzy Osbourne, Rod Stewart, Katy Perry e os grupos Kiss e Motorhead, Curitiba voltou a ter datas nas agendas de artistas estrangeiros. Porém, não foi só na rota de shows de estrelas do rock e do pop que a capital paranaense entrou. Agora, a cidade também recebe apresentações cheias de purpurina, paetês e cílios postiços: são as drag queens internacionais.
Seis artistas de destaque no mundo drag se apresentaram em Curitiba nos últimos 12 meses, todas oriundas do reality show americano “Ru Paul’s Drag Race”, uma competição com provas de atuação, fotografia e styling, que já teve sete temporadas e busca revelar a “próxima estrela drag”, O programa tem apresentação de RuPaul, um dos maiores nomes em drag queen da atualidade.
Segundo o produtor executivo Felipe Rocha, da Polarize Comunicação, o sucesso dos shows, que têm público que varia de 400 a 500 pessoas, e do reality show se deve ao fato de que a sociedade passa por um momento de redução do preconceito. Outra razão é que esse tipo de arte, que ainda é pouco difundida, gerar interesse. A Polarize é responsável pela maioria dos shows das drag queens famosas em Curitiba
Rocha conta que teve a ideia de trazer os shows para Curitiba após uma viagem a Las Vegas, quando viu que, nos Estados Unidos, este mercado funcionava bem e pensou que podia ser interessante trazer esse tipo de atração para a capital paranaense. De acordo com o produtor, o feedback das drag queens que se apresentam em Curitiba é bastante positivo. “Os curitibanos são bem espontâneos e fanáticos. Inclusive, o primeiro show da Adore Delano [uma das participantes do “RuPaul’s Drag Race”, que se apresentou na cidade em abril] no Brasil foi por aqui. Ela se assustou com o calor dos brasileiros e até decidiu cortar algumas partes do seu show, como pular em cima do público”.
A maquiadora Letícia Cardoso, 29 anos, acompanha o reality show desde 2012 e acredita que o programa dá abertura para acabar com o preconceito que envolve a profissão de drag queen. Letícia, que já foi a dois shows em Curitiba, adora as transformações que envolvem as artistas, além de considerar o universo delas muito divertido.
Já o estudante de arquitetura Lucas Pedão, 24 anos, que compareceu a shows de três ex-participantes do Drag’s Race e a dois de artistas locais, gosta da possibilidade que as drag queens têm de se transformarem, ainda que por certo período de tempo, em uma pessoa completamente diferente. “O grau de liberdade artística que elas têm acaba por criar coisas novas, provocantes e esteticamente interessantes, que outros artistas dificilmente conseguiriam alcançar”. O estudante ainda frisa o papel que as queens têm na luta pelo movimento LGBT, que julga ser significativo.

Lucas e a drag queen Katya Zamolodchikova, participante da 7ª temporada do RuPaul’s Drag Race (Imagem: Hudson Vagner)
Reality show inspira drags iniciantes de Curitiba
Inspiradas pelas participantes do “RuPaul’s Drag Race”, muitas drags iniciantes da capital paranaense estão tendo coragem de se expor, como é o caso do bancário Gabriel Machado Bittencourt, 20 anos.
Desde abril deste ano, Bittencourt, inspirado pelo reality show, encarna a drag queen Suzy Lüvcock, que já faz apresentações de dança e dublagem em algumas baladas da cidade. Ele conta que sempre teve simpatia pelas drags e “como bom amigo gay, adorava ajudar minhas amigas com roupas e maquiagem, até que um dia resolvi fazer em mim mesmo”. Segundo Gabriel, ou Suzy, mesmo que as primeiras vezes não sejam “tão lindas como a gente espera que fique”, a sensação é incrível.
O bancário conta que sua família foi bastante aberta para a experiência, mas que ainda há pessoas que não entendem esse tipo de arte, associando-a com prostituição. Para ele, a maior dificuldade que enfrentou não veio do preconceito, mas de se adaptar ao uso de salto alto, em especial um scarpin salto 15.
Em depoimento, estudante acredita que ser drag queen é um ato político
Assim como Suzy, o estudante de design Edson Moraes, também de 20 anos, é iniciante na arte de se montar para encarnar sua personagem, Luna Vicious. Confira o vídeo com a transformação e o depoimento de Edson sobre a arte de ser drag queen.
Imagem de capa: Hudson Vagner