34,9 milhões de pessoas sem registro formal de trabalho

Pessoas estão buscando novos meios para se sustentar
Por Andressa Carvalho e Laís da Rosa
O número de desempregados no Brasil, em fevereiro, foi de 13,1 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mercado financeiro rebaixa toda semana a previsão para o crescimento do PIB brasileiro, o que tende a reduzir as oportunidades de empregos para a população.
A quantidade de pessoas subutilizadas é ainda maior, chegando a 27,9 milhões, pois neste caso o IBGE não considera apenas os desempregados, mas também as pessoas que gostariam de trabalhar mais horas ou as que não podem procurar empregos por algum motivo.
Para o economista Eric Mattos a perspectiva do mercado de trabalho em curto prazo é a pior possível, pois o governo federal não utiliza nenhuma política de estímulo na demanda trabalhista. Segundo Mattos, a reforma trabalhista que foi prometida em 2017, que resolveria este problema, não aconteceu e não foram gerados os milhões de empregos prometidos. “Sem crescimento econômico não há novos investimentos, e com isto não há novos empregos”, afirma.
A vendedora de bombons Paula Mescko Bacinello, 22 anos, fala que quando se formou no ensino superior e não conseguiu emprego na área, resolveu fazer bombons para vender para as pessoas próximas e se interessou em empreender. “Tive a ideia de investir em uma foodbike de brigadeiros para poder aumentar minhas vendas e conseguir mais clientes. Já faz dois anos que montei minha primeira foodbike”, diz Paula. Ela conta que no momento está montando a própria cozinha em uma área residencial para atender mais pedidos e está juntando dinheiro para poder ter um ponto fixo nos próximos anos. Paula afirma que a desvalorização do trabalho artesanal e o alto valor de importação da matéria-prima (chocolates da Bélgica) são uma das dificuldades.
Cleverson David Maciel, 29 anos, trabalha sem carteira assinada há sete meses, mas conta que já trabalhou com carteira assinada em outros dois lugares. Ele fala que a falta de estudo e dificuldade de encontrar emprego com carteira assinada levou ele a aceitar trabalhar sem registro formal. Apesar de carregar bastante peso ele não vê isso como um obstáculo. “Neste momento outras duas pessoas dependem do meu emprego, minha esposa e minha filha recém nascida”, diz Maciel. Sobre trabalhar sem carteira assinada, Maciel afirma que não vê vantagens e que pretende voltar a trabalhar registrado. “Meu sonho mesmo era trabalhar em uma multinacional, na área da logística ou auxiliar de produção”, diz.
Deysi de Lourdes Pilatti, 60 anos, trabalha vendendo marmitas há três anos, mas já trabalhou registrada em três outras empresas. Ela conta que começou a vender marmitas devido à indisponibilidade de vagas de trabalho, sua pouca escolaridade e idade avançada. “Trabalhamos em três, mas aqui em casa estamos em sete, todos dependem do nosso trabalho, na alimentação e na metade das despesas da casa, a outra parte meu filho que paga”, afirma. Deysi também diz que é difícil ter uma base de quantas marmitas ela precisa vender para ter uma média mensal suficiente, mas ela acredita que seja umas 60 unidades. “Nesta altura da vida acho difícil eu trabalhar em outra coisa, mas se eu pudesse, seria guia de turismo”, comenta Deysi.
De acordo com o IBGE, atualmente 11,1 milhões de pessoas trabalham sem carteira assinada e 23,8 milhões de pessoas trabalham por conta própria, ou seja, 34,9 milhões de pessoas estão sobrevivendo como podem, sem direitos trabalhistas ou quaisquer garantias.
Mercado informal de trabalho cresce em relação ao ano passado
Crise acentua a procura do mercado informal
O Brasil é uma economia com alto grau de informalidade. Atualmente 40,8% de todos os trabalhadores estão no mercado da informalidade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de variar entre estados. No Paraná há um nível de informalidade de 35,5%.
Para o economista Eric Mattos, o mercado informal é um problema que atinge todo o país e a crise econômica acentua isso, pois ela reduz primeiramente os empregos formais e depois deteriora os empregos informais. “A crise destrói os empregos convencionais, que pagam melhor e que têm direitos trabalhistas e faz com que as pessoas tenham que se ocupar de qualquer forma para ganhar algum dinheiro”, relata Mattos.
Suzana (nome fictício), motorista da Uber há três anos, conta que começou com este serviço pela falta de oportunidade de emprego, ela também fala que uma das vantagens é não ter chefe e poder trabalhar a hora que quiser. Suzana afirma que entre as desvantagens em atuar somente como motorista é não saber a média mensal de quanto vai receber por mês. “Não é sempre que tenho corrida, às vezes fico parada uma hora para conseguir alguma. É muito difícil enfrentar esse trânsito maluco e lidar com os passageiros que às vezes são complicados”. Ela afirma que não sobra dinheiro, por conta dos gastos com a manutenção do carro, combustível e a taxa que a empresa cobra de 25% de cada corrida. Suzana já trabalhou como vendedora, comissária de bordo e recepcionista, mas sua profissão dos sonhos seria ser médica.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), atualmente o índice de subutilização da força de trabalho é de 24,6%, maior índice de informalidade desde 2012, ou seja, 27,9 milhões de pessoas estão desocupadas.